31 de mar. de 2009

O caso do tiro

É bomba, é tiro... Faltei à aula de ontem por excesso de trabalho. Estou concluindo neste exato momento uma reportagem que escrevo para a revista Pátio sobre diversidade cultural no Ensino Médio. Depois partilharei com vocês o texto, pois tem tudo a ver com as nossas discussões.

Mas estou escrevendo, rapidamente, para partilhar um acontecimento de hoje. Moro com uma amiga. Por volta das 19h, ela recebia em casa uma amiga. Na sala, as duas batiam papo enquanto esperavam o marido da visitante entrar. Ele estava na frente da casa vizinha quando, de repente, foi abordado por dois assaltantes. Um estava armado. Os dois queriam, de qualquer forma, que ele mandasse as duas abrirem a porta. Queriam entrar na minha casa. Ele gritava "não tem ninguém lá dentro, veja!" - e tocava a campanhia, rezando para que elas não aparecessem.

Três tiros foram disparados. O alvo, nosso amigo, atirou-se ao chão. Os bandidos fugiram. Ninguém se feriu. Esse episódio me fez, na hora, lembrar de um trecho daquele texto que escrevi para as aulas de mestrado do ano passado (quatro posts abaixo). Ao saber do fato, não entrei em pânico. Eu estava voltando do trabalho e, antes de ir ara casa, passei no posto policial e pedi orientação. Como já imaginava, os policiais me disseram que eu deveria fazer um boletim de ocorrência. "Trabalhamos com estatísticas. Se as pessoas não se manifestam só porque ninguém se feriu, na teoria o bairro está tranqüilo".

No meu texto, eu afirmei - e continuo afirmando: minha resposta é não. Não vou deixar de sair de casa, não vou entrar em paranóia, não vou deixar de viver e de ocupar os espaços públicos. Pessoas como essas, que surgiram e sumiram do nada por aqui, são construções sociais. O outro - o do tiro, o da bomba... - pode nos ferir, sim, eventualmente. Mas quem disse que não sente medo? Quem disse que não sente NADA?

Quando alguém não pensa duas vezes antes de tirar a vida do outro, para mim, é porque esta pessoa, por dentro, já morreu. Pela descrição, eram jovens. Quem os matou em vida? Claro que a minha serenidade é devido ao fato de que ninguém que eu amo se feriu. E que bom! Não gostaria de passar por isso, porque, provavelmente, o ódio falaria mais alto. Mas, se tive a oportunidade de passar por essa experiência dessa forma, que todos nós aproveitemos para nos perguntar, com essa serenidade, quem matou esses jovens em vida.

Um abraço a todos.

Meire.

25 de mar. de 2009

O condomínio e a escola

Me identifiquei muito com o texto de Baumam, principalmente quando ele nos fala do condomínio que está sendo projetado. Já morei em condomínio e tenho horror de pensar em voltar a morar em condomínionovamente. Eu achava as pessoas intrometidas, sempre fazendo comentários sobre o horario que fulano chegou, o carro que o vizinho comprou, etc. No início da leitura me imaginei um monstro que não conseguiu viver com outras pessoas, depois , durante a leitura entendi que é necessário vestir a máscara da civilidade para convivermos com outros sem sobrecarrega-los com nosso peso. Acredito que as pessoas do condomínio que eu morava não vestiam suas máscaras e talvez nem eu mesma. Esse condomínio tornou-se um espaço antropofógico, um lugar que devora as pessoas de modo a transformá-los idênticos uns aos outros para poder viver juntos.
Pensando sobre a escola acabei idenficando a mesma situação do condomínio, um lugar que já não se usa mais a máscara da civilidade e que simplesmente devora os alunos transformando-os todos iguais, uma ''escola de vidro''. Temos hoje uma escola que transforma o aluno em sujeito universal, e é exatamente o contrário, as peculiaridades e as diferenças é o que definem o sujeito. Tratar diferentemente as pessoas pode enfatizar suas diferenças,porém, tratar igualmente os diferentes pode esconder suas especificidades.
Temos que nos exercitar a conviver com o outro, com o forasteiro , sempre com nossas tendas abertas e de pés descalços...

23 de mar. de 2009

O caso da bomba

Na condição de pesquisadora do tema (In)disciplina na escola não pude me conter em apresentar algumas reflexões a partir do trabalho que realizei em algumas escolas, o qual resultou no livro (In)Disciplina na escola: cenas da complexidade de um cotidiano escolar, de minha autoria, a respeito do caso da bomba.
Segundo estudos por mim realizados, a partir de relatos de coordenadores, das descrições das observações em sala de aula, dos comportamentos das crianças em questão, e das atitudes apresentadas com os professores, nas diversas oportunidades em que foram presenciadas as cenas julgadas de indisciplina, e buscando conhecer melhor os sujeitos envolvidos no que diz respeito a caracterização desses sujeitos, tanto da escola particular quanto das públicas investigadas, tratou-se de pessoas que traziam de casa problemas familiares os mais diversos, constituindo-se, assim, vítima de uma circunstância, e não vilão de uma turma, como a maioria dos professores tentaram caracterizá-los.
Como vimos, na maioria das decrições das aulas observadas, a prática que ainda se perpetua entre os professores, principalmente no tratamento com esse perfil de aluno, é o de sua retirada da sala de aula, ou encaminhamento para outras instâncias, sempre que se faz presente uma situação de confronto. O que agora, com esse caso da bomba, só vem reafirmar tal posição.
Sabemos que as carências sofridas, existem em virtude de vários fatores, e na maioria das vezes, não são bem compreendidas por muitos professores, que não entendendo a agitação do aluno, se irritam a ponto de não desenvolverem estratégias de trabalho, com posicionamentos ético-afetivos de caráter inclusivo, optando pelo confronto, e até exclusão, situação constante nas escolas.
Nos dias atuais, temos como questão mais urgente da educação, fazer com que o aluno que se encontram nas salas de aula, lá permaneçam.
Nesse sentido, cabe à ação docente a compreensão do aluno que é tomado como problema, como um porta-voz de relações ambíguas, bem como a permeabilidade à mudança e à experimentação de novas estratégias que potencializem o binômio competência/prazer como um tipo de dever do dia-a-dia(Aquino, 2000).
De acordo com Aquino, em seu livro Do Cotidiano Escolar(2000), é preciso reinventar continuamente os conteúdos, as metodologias, as relações, o cotidiano. Dessa forma, para que o aluno possa acompanhar as mudanças que hoje se fazem presentes, far-se-á necessário adequar-se a um outro tipo de disciplina, não mais a do silenciamento ou da obediência, mas a do desejo de se fazer partícipe, vontade de conhecer e colaborar. Que a chamada "indisciplina" possa ser tomada como um movimento organizado, e o barulho, a agitação e a movimentação passem a ser catalisadores do ato de conhecer.
Será que alguém parou para pensar o que se passa na cabeça de uma pessoa que resolve jogar uma bomba em uma escola? Será que os prováveis sujeitos de uma ação como essa foram consultados em algum momento para dizerem que tipo de escola gostariam de ter? E que contribuição poderiam dar para torná-la melhor? Até que ponto, nós professores, também contribuimos para a instalação da indisciplina na escola?
Um dado que também me chamou a atenção no período do desenvolvimento da pesquisa diz respeito aos atrasos, abonos, afastamentos, licenças, faltas etc, que se faziam constantemente presente no cotidiano dos professores, principalmente, da rede pública de ensino, e o que concorria também para a desmotivação do aluno que sequer era avisado com antecedência de tal ausência. Acresente-se ainda, o prejuízo na qualidade da educação que era oferecida em virtude dos aligeiramentos dos conteúdos e da desadequação dos mesmos, quando apresentados.
Eis aqui, apenas alguns dados para refletirmos acerca de que a indisciplina não é de responsabilidade exclusiva do aluno, assim como não é só do professor, nem da instituição. Trata-se de um assunto bem complexo, e analisando a partir da ótica do pensamento complexo, trata-se de um fenômeno que possui uma quantidade extrema de interações e interferências estabelecidas entre um grande número de unidades, que envolvem incertezas, indeterminações e fenômenos aleatórios.
Vamos refletir bem a questão e não cometamos injustiças.
Cândida Alves

Mundo pequeno?

Suzana muda-se de cidade e resolve se matricular em uma academia. Lá chegando, conversa, conversa vem...descobre que o dono da academia é filho de sua ex-dentista. "Mas que mundo pequeno!", exclama Suzana.

Será mesmo o mundo pequeno? Ou será que circulamos pelos mesmos espaços que as pessoas com as quais nos identificamos? Colocamos sapatos similares e caminhamos por espaços similares, não percorrendo os mesmo espaços vazios...

Encontros e desencontros - olhando no espelho

ENCONTROS E DESENCONTROS – OLHANDO NO ESPELHO.


Tudo que lemos no texto de Bauman parece ter muito sentido. Mas a questão é: tem sentido para mim?
Moradora de condomínio e freqüentadora esporádica de centros de compras fiquei me sentindo como mais uma gota na liquidez desta sociedade. Realmente não há encontros, mas sim, sucessivos desencontros que nos levam a acreditar em um comum inexistente.
A frase famosa e muitíssimo conhecida: “nenhum homem é uma ilha”, ficou soando em minha mente....será? pode até ser, mas o que visualizamos é um arquipélago de solidões....um monte de ilhas próximas, mas com muita água nos separando....
Estranhos! Eis uma definição acertada para nossa relação com o outro. Todos temos sido estranhos a todos! Protegemos-nos da estranheza do outro e para isso contamos com a civilidade, ela nos protege de sermos pesados aos outros, e é claro, ficamos contentes com a reciprocidade.
Estranhamos o diferente, pois a “diferença requer confronto diante da alteridade do outro, clarificação e acordo..” Confronto, clarificação, acordo..estamos prontos pra isso? Ou ainda, queremos isso? Parece-nos mais fácil deixar o estranho fora de nosso espaço, afinal trabalhamos tanto..merecemos descansar, caminhar pelas nossas ruas aquém dos muros sem precisar presenciar estes tantos outros estranhos. É tão bom abrir a janela de nosso quarto aquém do muro e ver a limpeza das ruas, as árvores, pessoas saudáveis caminhando com seus animais de estimação. Que comunidade, que ordem!
Mas infelizmente temos que sair... mas no fundo parecemos acreditar que em breve isso não mais será necessário....vamos conseguir trazer tudo o que queremos para cá do muro. Por enquanto ainda precisamos sair..e estranhamos...estranhamos os meninos mal vestidos dos cruzamentos, os velhos dormindo nas ruas, o deficiente, o estrangeiro, o OUTRO.
Mas nossa passagem por eles ainda é inevitável....mas atravessamos e deixamos para trás. Se precisarmos permanecer em lugares com esses estranhos, cuidamos logo de que sua presença seja meramente física...nada de encontros.
Infelizmente, a escola tem sido um lugar de desencontro e estranheza...o estranho já foi um exilado desse lugar....seu lugar era em outros muros...Agora, permitimos sua presença física, mas aniquilamos sua alteridade.
Os muros.. de Berlin, dos condomínios, dos shoppings Center, das escolas, do nosso EU..precisam ser quebrados todos os dias!

22 de mar. de 2009

Sobre o outro, os muros e a ilusão

Assim que comecei minha leitura ao texto de Bauman – que começa a descrever um super condomínio e a pseudo-segurança de seus muros – tive a nítida sensação de voltar um ano exato no tempo. Vocês já assistiram ao filme A Vila? Pois bem, ele (e mais alguns outros) foram usados pelos professores da disciplina que cursei no primeiro semestre do ano passado.

Escrevi, na introdução do meu texto de conclusão do curso, seguinte:

Os muros são altos. Bem altos. Quem está do lado de dentro se sente seguro. Quem está do lado de fora só vê muros. Estes, os “de fora” – os estrangeiros –, são como o inimigo de quem, a todo custo, os “de dentro” precisam se proteger. Vivemos na sociedade dos condomínios fechados. Dos ciclos de amizade fechados. Dos portões, mentes e corações fechados.

Nos condomínios, que os “de dentro” insistem em ostentar, há de tudo: padaria, vídeo-locadora, escola, papelaria, academia de ginástica, clube e até danceteria. Tudo para não ter de pisar no mundo “de fora”. As crianças desses lugares nascem como moradores de um outro país. Ao pisar do lado de fora, são como estrangeiras. Ao receberem estrangeiros, são como nativos observando alguém de uma cultura distante.

(((((Para não entupir o blog, coloquei a íntegra deste texto, para quem quiser ler, no meu blog.)))))

Bem, tudo isso para colocar aqui a discussão da ameaça que O OUTRO representa. É nisso que tenho pensado. O caso da bomba na escola vai na mesma toada: o outro é quem se deve culpar. Penso nos lugares públicos que deixamos de ocupar, nos amigos que deixamos de fazer, nas reuniões que deixamos de participar, na vida que deixamos de viver, na alegria e na esperança que deixamos de entregar aos jovens. Tudo por medo. É um medo inexplicado e inexplicável. Quase como um botão de piloto-automático. Nos defendemos do que nos é diferente. Ou seja, de tudo...

No fim das contas, os muros que nos protegem são ilusão. Nosso inimigo não é o outro, mas nós mesmos.

Compartilho com vocês a música Muros e Grades, dos Engenheiros do Hawai.

“Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia
O medo nos leva tudo, sobretudo a fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia”

Vertigem

Eu gostaria de ser capaz de articular o meu pensamento de tal forma, que conseguisse externar os eufóricos, tranquilizantes, agitados, calmos pensamentos que me ocorrem quando entro em contato com as leituras sugeridas durante essa disciplina e nos nossos diálogos. Diante da minha incapacidade selecionei duas falas do texto "Os três maiores segredos da vida" que consideravelmente mexeram comigo. Aliás, quando li o título despertou em mim um desejo de lê-lo o mais rápido possível. Posso afirmar que ele me fez arregalar os olhos, sorrir, ficar confusa, ter de retomar a leitura e me sentir confortada em alguns momentos.
"Melhor enfrentar a vertigem do horizonte e usufruir da liberdade do que inventar portas reconfortantes que nos fazem cativos e solitários".
Quantas portas reconfortantes a escola tem inventado! Quantas?!? Para mim só é possível que a escola se reconforte porque falta-lhe a lucidez. Assim vive na ilusão. Na ilusão de que ensina bem, de que o "problema" é dos estudantes, do governo, da sociedade, da família desestruturada, da violência, das drogas... Seria tão melhor usufruir da liberdade e compartilhar da vertigem...
Outra provocação a qual tive acesso por meio do texto foi a seguinte:
"O que nos faz alucinados a ponto de pensar que estamos encarcerados e que a liberdade está do lado de fora?"
A liberdade está em nós. Não é dada. Precisa de espaço e no seu tempo se manifesta e se articula. Seria para isso necessário viver junto?
Não era um desejo meu falar sobre o "caso da bomba", mas neste momento me senti motivada a escrever sobre. A saída nada lúcida da escola de sugerir indireta e mascaradamente a expulsão dos estudantes "rebeldes e violentos" impediria o "viver junto". Para mim, aqui, ela estaria abdicando da sua maior função! Educar para que possamos viver juntos e assim, perderia o seu sentido de existir e se manter.
"Deus está justamente no lugar onde não há ilusões. Deus está fora dos sapatos, podemos diferenciar as nossas certezas do que de fato é real. Fora dos sapatos, encontramos a distinção entre as nossas certezas e a realidade".

Águas de Março na Modernidade Líquida...

Águas De Março
Antonio Carlos Jobim & Elis Regina
Composição: Tom Jobim
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto, o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promesa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um Belo Horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
Pau, pedra, fim, minho,
Resto, toco, porto, zinho
Caco, vidro, vida, ol
Noite, orte, laço, zol
São as águas de março fechando o verão
É promessa de vida no teu coração

As leituras dos textos de Bauman dessa semana me fizeram pensar muito sobre a sociedade líquida em que vivemos, que nos traz relações pessoais e profissionais líquidas também.
Não é uma sociedade simples, muito pelo contrário, tão complexa que chega a dar medo, receio do caos líquido que transborda. Na música Águas de Março lembro –me das dificuldades encontradas no caminho ao nos depararmos com Pau, pedra, toco, caco...vidro...e penso nos desafios de nosso dia a dia...se é o fim do caminho??...nunca pensei como o fim do caminho, mas talvez a possibilidades de criar e ousar novos caminhos....
Fico a pensar nas relações profissionais, pessoais, educacionais “outras” que são renovadas todos os dias, com fusões entre empresas e, diga-se de passagem entre escolas também que viraram ou virarão empresas...isso só o tempo nos dirá, onde não temos garantia do que está porvir; em relações duradoras que foram substituidas pelas de curto-prazo, com encontros fugazes, mantendo a possibilidade de ser “abduzido” e nas relações educacionais “outras” que são cada dia mais complexas e amplas do que o simples ato de “educar – ensinar”
“Lugares “públicos mas não civis” permitem que lavemos nossas mãos de qualquer intercâmbio com os estranhos à nossa volta e que evitemos o comércio arriscado, a comunicação difícil, a negociação enervante e as concessões irritantes. Não impedem, porém o encontro com estranhos; ao contrário, supôem-no....” (Bauman,2003, 122)
Muitas relações educacionais se dão portanto em locais “públicos mas não civis”, locais onde o “outro” apenas está lá, mas não aparece no currículo da escola, locais onde tudo o que é feito pelo “outro” é visto com estranheza tal, a ponto de querer “enformá-lo” para adequá-lo a sociedade, local onde todos deveriam ser aquilo que são, serem despertados ao melhor de si, sem a preocupação com o que o “outro” é...mas isso é tão difícil pois todos desejam a idealização do “perfeito”, que na verdade não existe....o que é esse perfeito? quem é esse perfeito? para que serve o perfeito?
E ao pensar nisso me lembro da bomba na escola, do aluno que mata seus colegas e professores em outra escola...isso seria um berro, um grito, um surto? O que essas pessoas querem nos mostrar, mostrar a escola, aos colegas, aos professores? A escola deve saber quem são seus alunos e atualmente o que sinto é que isto é muito vago para as escolas que ignoram seus alunos, ignoram seus desejos, interesses, problemas, sua realidade...?

Qual o espaço que a Escola ocupa?







A Escola ocupa os espaços públicos, os espaços de consumo, os não-lugares ou os espaços vazios? Cada escola pode ocupar um destes espaços e ao mesmo tempo ela pode ocupar espaços diferentes no mapa mental de cada indivíduo, dependendo da relação que se estabelece entre o indivíduo e a escola.

Ao reconhecer que as relações de tempo e espaço foram profundamente alteradas na modernidade e que a presença de um tempo instantâneo (aniquilação do tempo) e de um espaço sem valor estratégico, também temos que reconhecer que a instituição Escola se solidificou e se cristalizou no tempo e espaço de outra era. Isso a torna cada vez mais distante da realidade, ocupando os espaços vazios nos tempos atuais.

Desfocada da contemporaneidade, a Escola vive um paradoxo: continua desenvolvendo seu papel em função de uma sociedade hardware, cada vez mais ultrapassada, ou passa a trabalhar a partir das necessidades atuais que convergem para uma educação software, flexível, fluída, focada no tempo presente.

Em outras palavras, a Escola muda seu paradigma – e aí seu desafio vai ao encontro dos desafios com os quais a inclusão se depara - ou ela continua avessa ao que está acontecendo no mundo, ora como um espaço público que expulsa os que fogem do perfil ideal, ora como um espaço de consumo para disfarçar as diferenças nas ações homogêneas, ora como um não-lugar que privilegia somente presença física, ora como um espaço vazio, alheio a todos e de todos.
Obs: a primeira e a segunda foto são de Sebastião Salgado.

Discursos sólidos para problemas liquidos?

Pergunto-me, qual é o impacto da modernidade liquida na Educação?

Segundo Bauman, no decurso dos anos ele aprendeu a apreciar a queixa de Adorno (Filósofo alemão, 1903- 69) “ sobre a convenção linear da nossa escrita: por causa dessa convenção nós não conseguimos transmitir a lógica do pensamento que, diferentemente da escrita, se move em círculos e está invarialmente forçada, pelo seu próprio progresso, a fazer perpétuos retornos”.
Reconhecido por traduzir o mundo em textos, indiferente as fronteiras disciplinares, confessa que todos os seus livros foram entregues ao editor inacabados dizendo que as perguntas mais intrigantes emergem via de regra, após as respostas!
Pergunto então, qual é o reflexo deste mundo liquido na Educação? Como romper com o saber cristalizado repassado para alunos líquidos enfileirados um atrás dos outros em aulas de cinqüenta minutos. Tempo e espaços divididos em fatias onde os alunos são tratados como alienígenas em salas multiculturais, onde a diversidade só tem direitos no currículo dando a impressão que a diferença está sendo está sendo respeitada? A diferença vista como inimiga da ordem estabelecida que precisa ser administrada e colocada em vitrines para dar um certo ar de civilidade onde pequenos descuidos geram grandes problemas.
Questões para serem respondidas a curto ou longo prazo? Como dar conta da diferença com discursos sólidos duráveis para sempre onde a desvalorização da imortalidade deu lugar à transitoriedade. “Como disse um personagem de Woody Allen: eu não quero a imortalidade por minha obra, um quero alcançar a imortalidade não morrendo”.
Acredito que tudo isto nos possa remeter ao Caso da bomba. Será que a escola não esta fazendo uso de um discurso sólido para tratar de um problema líquido, fluído?
Talvez a bomba possa ser o detonador de questionamentos líquidos onde o mais importante seja reconhecer a condição humana da comunidade escolar sendo autoritarismo substituído pela autoridade num dialogo que penetre no tempo e espaço da escola derrubando seus muros e fronteiras para dar lugar a novas formas de se pensar a indisciplina de corpos dóceis e assujeitados.
Retomando Bauman quando diz que o pensamento não é linear como a escrita ele sempre faz perpétuos retornos peço licença para citar Jorge Luis Borges que nos oferece uma possibilidade de não reutilizarmos mapas antigos de informação exaustiva sobre tudo de exatidão absoluta para tratar do caso da bomba!

Os mapas de Jorge Luis Borges

"Gosto de mapas. E sempre que me debruço sobre o assunto, por prazer, necessidade ou em trabalho, recordo um texto de Jorge Luis Borges que acaba assim:...Naquele império, a Arte da Cartografia alcançou tal Perfeição que o mapa duma Província ocupava uma Cidade inteira, e o mapa do Império uma Província inteira. Com o tempo esses Mapas Desmedidos não bastaram e os Colégios de Cartógrafos levantaram um Mapa do Império, que tinha o Tamanho do Império e coincidia com ele ponto por ponto. Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as Gerações Seguintes decidiram que esse dilatado Mapa era Inútil e não sem Impiedades entregaram-no às Inclemências do Sol e dos Invernos. Nos Desertos do Oeste perduram despedaçadas Ruínas do Mapa habitadas por Animais e Mendigos; em todo o País não há outra relíquia das Disciplinas Geográficas.
(Suaréz Miranda: Viajes de Varones Prudentes, Livro Quarto, Capítulo XIV, Lérida, 1658.)Jorge Luis Borges in História Universal da Infâmia)

21 de mar. de 2009

Companheiros da adversidade

A escola em mais uma tentativa de se legimitar como uma instituição que faz parte da realidade dos sujeitos, conclama a participação da comunidade em decisões que interferem na dinâmica do dia-a-dia dessa organização. Mais do que nunca encontramos artigos, textos, teses, etc. que destacam a importância da COMUNIDADE na escola. O conselho de escolha, as comissões de avaliação instituicionais, as mostras culturais são alguns exemplos de ações que a escola propõe para falar à comunidade "Olhe só, você está aqui dentro ! Pode entrar, seja bem-vindo !" Será ? Será que a escola é uma boa hospitaleira ? Será que a escola abre mão de suas verdades e acolhe o outro como ele o é ? Acredito que não...
Quando os estudantes adentram os portões da escola, automaticamente e implicitamente (ou explicitamente) lhe é imposto para que deixe a sua identidade do lado de fora, pois ali não há espaço e nem tempo para lidar com esse "incômodo". O que a escola não conta é que algumas vezes (com muito mais frequência hoje, não é a toa que a violência na escola atinge níveis jamais vistos) esse outro insiste em adentrar seus portões e que para anunciar a sua chegada, se utiliza de barulho e destroços. E o que a escola faz? Este outro não pode pertubar a ordem, não pode provocar e nem pertubar, não pode "acordar" verdades que não são aquelas que a escola impõe...A escola então convoca a comunidade para que juntas, combatam a invasão, o peregrino não desejado. A escola pontua suas "verdades", aponta o perigo que o outro representa aos outros, apresenta seus rótulos e estereótipos. Choros, gritos, reclamações, indignações e constatações...E a comunidade ? O que pensa ? Afinal, ela está ali, dentro dos portões, hospedada por uma escola que sabe que ela "existe"...Enfim, a comunidade se cala...Os rostos da comunidade não expressam indignação ou pena quando um ou outro funcionário ou professor chora ou reclama...Mas quando uma mãe que vê seu filho acusado e indesejado pela escola chora esses mesmos rostos mudam...Compaixão, pena ? Compreensão ? Acredito que não...Essa mãe é também a comunidade...Conhece as dificuldades de viver em um bairro como aquele, consolou outras mães que perderam seus filhos para a violência, ajuda aquela vizinha que não tem o que comer, pois está sem emprego, cuida do menino da esquina que fica sozinho o dia inteiro, jogado na rua, esperando a volta tardia de seus pais já quase no final da noite...Enfim, essa mãe é mais uma companheira da adversidade. Aquela mãe e seu filho não são desafetos para aquela comunidade, são parceiros, companheiros, expostos a uma mesma violência ou adversidade, ou seja, da exclusão da sociedade. "Só quando enxergam o outro como vítima do mesmo infortúnio conseguem desfazer sua inimizade" (Bonder, pág. 106).

Das estratégias para enfrentar a alteridade dos outros à bomba na escola


Se o medo do outro é uma fobia humana antiga - "a crença na conspiração dos outros contra nós", em tempos modernos, nas palavras de Levi-Strauss, as estratégias para enfrentar a alteridade do outro ganham um certo refinamento. Desde a fantasiosa vontade humana de construir comunidades seguras (como os condomínios cercados) até a construção de mapas mentais que garantam os espaços vazios (o feio que não desejamos ver).

Indo adiante, se não conseguimos, pela civilidade, nos engajar no bem comum, construímos lugares isentos de hospitalidade – lugares fantásticos para serem admirados. Mas inacessíveis, são apenas lugares de passagem – tal qual a praça La Defence em Paris. Para que bancos? Para que árvores? Para que encontros? Trata-se da estratégia antropoêmica que visa o exílio ou a aniquilação dos outros – dá pra fugir com pressa, não precisamos ver.

Por outro lado, podemos falar dos espaços de consumo – lugares onde, deslumbrados pelos objetos de desejo, somos todos seduzidos pelas mesmas atrações. Parecemos iguais, cremos que estamos todos dentro. Boa pergunta, serão os shoppings (templos do consumo) parte da nossa estratégia antropofágica refinada para a aniquilação da alteridade? O certo é que, se não a aniquilamos, certamente, a suspendemos por alguns momentos.

Resta-nos a pergunta: por que será que se deseja jogar uma bomba na escola?

Tire seus sapatos

Que modelo de comunidade estamos criando em nossas escolas? Uma comunidade que encoraja a ação e não a integração? A escola tornou-se um não-lugar, onde partilhamos um lugar público, porém, não-civil, onde toleramos os estranhos em presença meramente física, um espaço vazio. Vazio de significados onde as diferenças conseguem torna-se invisíveis. O caso da bomba deixa isso muito claro.
Projetos isolados sobrecarregam os professores,mais será que um espaço público não-civil consegue tratar essa ''patologia social'' em que estamos inseridos? Nilton Bonder consegue explicar essa patologia de maneira bem clara:

...a diversidade que não se reconhece como parte de algo maior ficará encerrada onde, na verdade, não há qualquer porta ou parede. Assim o individuo será um prisioneiro de sua visão de mundo e fará de sua pele uma couraça que enclausura. Sentenciado ao isolamento sob a ilusão que está protegido.

O que fazer para nos libertar dessa clausura? O próprio Nilton Bonder nos responde: '' Tire seus sapatos dos pés..."

Refletir...

A sociedade de hoje, vive em tempos
de incerteza,
do medo de não saber,
da insegurança,
do imprevisível
e principalmente, de não ter o domínio da situação...
e que estas dúvidas, provocam o constante repensar ,
o refletir,
o replanejar,
o criar
e, por fim
o transformar.

Em que tempos e espaços?

“É difícil conceber uma cultura indiferente à eternidade e que evita a durabilidade.Também é difícil conceber a moralidade indiferente às consequëncias das ações humanas e que evita a responsabilidade pelos efeitos que essas ações podem ter sobre outros.O advento da instantaneidade conduz a cultura e a ética humanas a um território não – mapeado e inexplorado, onde a maioria dos hábitos aprendidos para lidar com os afazeres da vida perdeu sua utilidade e sentido”
(Zygmunt Bauman)


Ser Educador hoje é resgatar o passado e planejar o futuro?
Como é atuar no presente?
Ser Educador é um constante repensar, refletir, replanejar, criar e por fim, transformar e possibilitar para o novo.

20 de mar. de 2009

Não-lugar


Até mesmo para se discutir a diferença, ou se conceber um espaço como sendo um espaço, é necessário que haja mais de um, em um processo de réplica, tréplica e incontáveis movimentos de ir e vir, no diálogo ou no silêncio das idéias.
“Os espaços vazios são antes de mais nada vazios de significado. Não que sejam sem significados porque são vazios: é porque não têm significado, nem se acredita que possam tê-lo, que são visto como vazios (melhor seria dizer não-vistos). Nesses lugares que resistem ao significado, a questão de negociar diferenças nunca surge. Não há com quem negociá-la”. (p.120)
É preciso atribuir um ‘significado’ para dotar um elemento de uma “identidade”.
Desse modo, pensar o espaço educacional, à semelhança de muitas obras criadas por mãos humanas e consagradas por sua imponência, sua história, ou seu valor simbólico de dominação e superioridade, se faz um lugar onde, muito além das suas fronteiras materiais, está a vivência de sua realidade imaterial, não-concreta, porém, não-abstrata. Lugar de experiências etéreas, efêmeras, eternas, intensas... lugar onde se habita, se constrói, se destrói, se liberta, se limita... lugar onde o conflito interior e exterior estão em constante contato, no ir, vir, devir....


Longe...Tarde... Perto... Cedo.... Território... Paraíso perdido... Aventura... Felicidade... Riqueza... Poder... Estrangeiro... Múltiplo... Único... Igual... Diferente... Antagônico... Impreciso... Complexo... Completo... Inacabado... Tempo... Infinito... Ser...


Palavras soltas no texto que tecem algo além da própria idéia ou teoria... tecem experiências, desejos e diferentes focos sobre um mesmo elemento...

Como estão dispostos o espaço e o tempo na escola



As escolas são erigidas uniformemente, sem considerar a realidade local, a maneira de viver e se relacionar das pessoas que ali estão.
É como um bloco que cai, uma imposição na forma de um prédio, uma cápsula com uma distribuição de tempo e espaço funcionando paralelamente da forma de viver dos que estarão ali.
Após sua instalação, iniciam-se as reformas e modificações, através de manifestações artísticas com desenhos, pichações, cores, códigos, símbolos e dizeres que tomam conta de suas fachadas, paredes e muros, tornando-se grandes painéis e quebrando a frieza de seus traçados, desenhos e cores originais.
Alterações arquitetônicas também acontecem, desfazem-se barreiras, muros e alambrados, dando origem a outros acessos, reconfigurando-se assim, os limites físicos estabelecidos anteriormente. Os espaços agora são outros, formam-se guaritas humanas que controlam entradas e saídas de locais criados para fumar, namorar...
Tudo isso pode nos remeter às categorias de espaço público encontradas no texto "Espaço/Tempo" em "Modernidade Líquida".
Não será parecida a escola, com a praça La Défense, em Paris? Em sua falta de hospitalidade, que num primeiro momento o que se vê inspira respeito e depois desencoraja a permanência? Espaço cujo único destino é ser atravessado e deixado para trás o mais rapidamente possível?
Não será, ainda, parecida a escola, com a segunda categoria apresentada no texto, que nos remete a um lugar que por mais que esteja cheio, encoraja a ação e não a interação? Ou ainda, vista como um templo bem supervisionado, vigiado, uma ilha de ordem? Pelo menos como se espera e se supõe!
Temos ainda uma terceira categoria, a de "não lugar", que se dá através de uma presença meramente física, ou de "ausência", esvaziando ou zerando a subjetividade de seus passantes.
Poderíamos encontrar outras categorias?!
Por isso, bombas, pichações, modificações estruturais do prédio, reformulações nos espaços de cirlulação interna, criação de áreas para práticas específicas ... podem ser atitudes para dar sentido a " um pedaço flutuante do espaço, um lugar sem lugar que existe por si mesmo, que está fechado em si mesmo e ao mesmo tempo se dá ao infinito do mar" como nos aponta Michel Foucaut.

17 de mar. de 2009

solidariedade comunitária

Podemos dizer que "comunidade" é uma versão compacta de estar junto, e de um tipo de estar junto que quase nunca ocorre na "vida real": um estar junto de pura semelhança, do tipo "nós que somos todos os mesmos"; um estar junto que por essa razão é não-problemática e não exige esforço ou vigilância, e está na verdade pré-determinada; um estar junto que não é uma tarefa, mas "o dado" e dado muito antes que o esforço de fazê-lo. " Somos todos semelhantes". O mito da solidariedade comunitária deu a essas pessoas modernas a possibilidade de ser covardes e esconder-se dos outros. (Sennett, 1978)
Fiquei pensando no caso da bomba... Será que ao acobertar o caso, a não solução, não estará possibilitando que o covarde se esconda no outro? Quais serão as  próximas ações terroristas? 

16 de mar. de 2009

Iguais a quem?


Somo iguais a ....e diferentes de....Mas quem vem a ser esse “a” e esse “de”? Quem é esse outro que é igual ou diferente? Esse estrangeiro que reconhecemos na diferença das nossas medidas, somos nós mesmos reconhecidos na diferença da medida do outro. E se somos todos outros, como absorver, ou não, a multiplicidade de tantos singulares outros?Como acolhê-lo e oferecer-lhe hospedagem sem saber quem vem a ser este outro; sem nomeá-lo, caracteriza-lo, sem o “des-singularizar"?

15 de mar. de 2009

Bem vindo estrangeiro!

Bem vindo estrangeiro!


“Será impossível a tarefa de educar na diferença?”(p.137).

Recebamos estrangeiros em nossas escolas! ”... a hospitalidade absoluta exige que eu abra a minha casa e não apenas ofereça ao estrangeiro (provido de um nome, de família, de um estatuto social, etc.), mas ao outro absoluto, desconhecido, anônimo, que eu lhe ceda lugar, que eu o deixe vir, que o deixe chegar, e ter um lugar no lugar que ofereço a ele...” (DERRIDA, p.25).

Incluir não é direito, dever ou concessão!Incluir é simplesmente gente com gente!

Sinto que, todas as vezes que tentamos explicar ou argumentar em pro da inclusão, a estamos, de certo modo, fragilizando... Buscamos argumentos, defesas, saídas para algo que nem deveria existir... Justificar o estar com, em função do discurso multiculturalista ou de tolerância, sempre permeado pala formatação, pelas “caixas” colocadas para organizar esta sociedade democrática e plural... Fugimos novamente de Babel...

Acredito e sonho com esta “... educação que aposte transitar por um itinerário plural e criativo, sem regras rígidas que definam os horizontes de possibilidade” (p.137) Não uma educação anárquica, mas uma educação de possibilidades e hospitalidade.

É possível a tarefa de educar na diferença?

Duschatsky e Skliar abrem muitas portas, mostram a perversidade de como alguns conceitos que são aplicados na educação que tem o outro como fonte de todo o mal, a lógica binária, a necessidade de definição de estereótipos; os outros como sujeitos plenos de uma marca cultural, representado pelo multiculturalismo na sua versão folclórica ou reducionista, ora embutida na lógica do capital humano, ora na cognição multiculturalista enlatada e fixada no currículo escolar, ora na convivência dos diferentes, sem nenhuma alusão à desigualdade; e a identificação do outro como alguém a tolerar, mostrando o quanto é nociva, pois “debilita as diferenças discursivas e mascara as desigualdades”.

Para todas essas questões os autores se posicionam no último parágrafo, deixando a impressão de que é quase impossível a tarefa de educar na diferença. Ao encerrar o texto traz a sugestão de se colocar, “à disposição do outro, tudo aquilo que o possibilite ser distinto do que é, em algum aspecto. Uma educação que aposte transitar por um itinerário plural e criativo, sem regras regidas que definam os horizontes de possibilidades”. Sem receitas. E que está condicionado ao que Derrida me trouxe como questão: aceitar o outro incondicionalmente?

Compartilho um vídeo para pensar um pouco sobre a lógica binária do Mundo... no meio da música, entre imagens que nos fazem pensar, tem uma frase: "é justo ser tão diferente?". O que fazer com as diferenças extremas? Como distinguir diferenças construídas socialmente daquelas que são natas do ser humano? Apenas ser tolerante é suficiente?

Dilema

As leituras sugeridas me emocionam, inquietam e me colocam em contato com elementos fundamentais para que se pense sobre o direito de ser diferente na escola. A perplexidade diante do mundo confuso em que vivemos parece-nos conduzir-nos à construção de meios que contribuam para a organização, controle, disciplina e compreensão do outro e de nós mesmos, a partir de categorias. Vemo-nos então prejudicados pelas nossas próprias armadilhas, caímos nas nossas próprias ciladas. Nosso desejo de organizar o desorganizado nos perturba e nos coloca diante do comando do desgovernado. Afastamo-nos da liberdade esquecendo-nos de que ela livrar-nos das manipulações, inclusive as do nosso pensamento. A escola esqueceu-se (se é que ela soube em algum momento) de que sua principal contribuição para os seres humanos talvez seja ajudá-los a viver juntos e não aprender a ser livres. Diante da sua incapacidade de viver com o outro singular, enigmático e em transformação, ocupa-se com as políticas de identificação e governo da diferença. Despreza o simples, a pergunta simples, o para quê? E envolve-se na busca incessante pela compreensão do incompreensível, sem saber se é incompreensível pela sua simplicidade ou se é simples pela sua incompreensibilidade.
Presa às suas verdades a escola não consegue acolher o outro absoluto, desconhecido, anônimo. Não consegue lhe ceder lugar, deixar vir, chegar e ter um lugar no lugar que a ele oferece sem exigir dele nem reciprocidade, nem mesmo seu nome.
A diversidade sugere categorização e a diferença singularidade. O que fazemos então com o nosso desejo de classificar e compreender as pessoas e os fatos? O que se pretende com os diagnósticos educacionais e terapêuticos? Definir as pessoas?
O outro não é o que definimos. O outro é. Ele está pronto.
A escola vive hoje um dilema. Ao mesmo tempo em que proclama as diferenças, funciona silenciando distinções e conflitos.
Arca de Noé

Aquilo que poderíamos chamar de "era da incerteza" é o conviver com o conflito, com a desordem, considerando isso como patológico. Será que justapondo conceitos contraditórios ou antagônicos, em relação à ordem e organização, e, considerando-os como desvios inerentes a qualquer processo, conseguimos romper com a lei da hospitalidade como direito ou dever?
No texto de Derrida encontramos que hospitalidade absoluta exige que eu abra minha casa e não apenas ofereça ao estrangeiro anônimo e desconhecido, um lugar, sem exigir reciprocidade, rompendo assim com a hospitalidade de direito.
Lembrei-me da metáfora da Arca de Noé, quando nos sentimos ameaçados por um dilúvio, que pode ser algo que coloque fim à própria espécie. Fazemos do próprio corpo uma arca, que hospeda as polaridades, contradições, dimensões da realidade humana.
Há vaga para mim nessa hospedagem?
Aceito-me como hóspede?

14 de mar. de 2009


Inicio a minha reflexão com o seguinte trecho do texto: “Estamos aqui posicionados frente a uma complexa problemática que simultaneamente nos indaga sobre a tradução e a representação da alteridade.’
“Está claro que, quando utilizamos os termos tradução e traduzir, não nos remetemos a seu significado literal, mas, melhor dizendo, a seu valor intrinsecamente metafórico. Dados que a questão cultural mais significativa destes tempos parece ser a assimetria entre os discursos e a desigualdade entre as representações, os olhares sobre as diferenças dependem, em certa medida, da possibilidade ou impossibilidade de tradução” (CARBONELL. I.CORTÊS,1997)
Escher -Relativity, 1953
Diante as leituras realizadas, tenho me questionado sobre o meu olhar desta tradução e a representação da alteridade, do olhar para hospitalidade justa e da hospitalidade de direito e o olhar para o outro.

O olhar que procura ver, analisar, entender e se surpreender com a complexidade e se apaixonar pela autenticidade.

Dois homens puseram se a caminho

“Dois homens decidiram pôr-se a caminho. Tinham o mesmo destino, por isso optaram por viajar juntos. O primeiro pôs às costas toda sorte de utensílios e mantimentos. O outro ao invés, quis partir sem bagagem. Antes, porém, de iniciar a longa jornada ajoelhou-se à beira de um rio e lavou os olhos.
O companheiro intrigado, perguntou-lhe por que fazia aquilo. Ao que o homem lhe respondeu:
___ O que devo ver é muito mais do que aquilo que devo possuir.”

J.J Benitz


Para Bhabha, (1994 apud Sckiar p.128) é no interior do discurso liberal que sobrevém uma norma transparente construída e administrada pela sociedade que “hospeda”, que cria um falso consenso, uma falsa convivência, “a universalidade que paradoxalmente permite a diversidade, encobre as normas etnocêntricas” Será o multiculturalismo uma forma elegante que a Modernidade desenvolveu para confessar sua brutalidade colonial?
Trocando em miúdos não seria o vírus da AIDS uma metáfora para se pensar o etnocentrismo? Hoje em dia, com o chamado coquetel à pessoa infectada pode ter uma vida “normal”, saudável, mas não pode se descuidar porque, até hoje não temos uma vacina contra a doença. E com o etnocentrismo não se dá o mesmo?
Nos ajuda a refletir Benjamin (1994, p.13) quando diz: “Ora, a força do relato em Heródoto é que ele sabe contar sem dar explicações definitivas, que ele deixa que a história admita diversas interpretações diferentes, que, portanto, ela permaneça aberta, disponível para uma continuação da vida que dada leitura renova com suas forças germinativas.
Não seria o multiculturalismo o lobo em pele de cordeiro?


...ou a singularidade dos grupos?



E que grupos tão auto-suficientes, ou complexos, são esses que direcionam todas as características dos seus integrantes? E que espécie de formigas são esses integrantes? Elas têm nomes ou números, únicos, que podem dar suas “fichas”?


A partir da comprovação positiva dessas questões, pode-se, talvez, a meu ver, acreditar que a singularidade num grupo é possível.


Somos seres de DNA único e em construção de identidade constante, ou não?


"Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo"
Raul Seixas

Exilados Tibetanos


A diversidade cultural é complexa em todos em âmbitos, o que não conhecemos exilamos de nosso convívio, e em atos cruéis também aqueles que conhecemos más não os entendemos.
O não entendimento cultural pode implicar em fatores como o modismo, relativo a alguns e outros não. O grande problema e enquadrar se em costumes maneira de vidas diferentes, usar de mascaras para se disfarçar será que é o caminho? Creio que não, viver diversidade incide em trabalhar a tolerância e não a comparação culposa do diferente como o ser em que não se em quadra em padrões.
Se tornar exilado em outro pais por exemplo é cruel quanto as diferenças e culturas, pior é se exilar em sua própria cultura, pátria ou classe.

Plural?

"Espio no espelho
o espião
que existe em mim.
Mas ei-lo
que logo se esconde
atrás
da imagem
que espio
em mim"
(Flávio Moreira da Costa-poeta brasileiro)

As observações dos dois textos remetem-se à relação entre o 'eu' e o 'outro', de forma a expressar a totalidade de 'dualidades' possíveis nessa relação. Se são os padrões formatados por um ou mais sujeitos que estabelecem parâmetros de diferença, são estes mesmos padrões que aprisionam ou que levam ao desejo da libertação:
"Necessitamos do outro, mesmo que assumindo certo risco, pois de outra forma não teríamos como justificar o que somos, nossas leis, as instituições, as regras, a ética, a moral e a estética de nossos discursos e nossas práticas. Necessitamos do outro para, em síntese, poder nomear a barbárie, a heresia, a mendicidade etc. e para não sermos, nós mesmos, bárbaros, hereges e mendigos". (Duschatzky & Skliar, p. 124)
"A hospitalidade absoluta exige que eu abra minha casa e não apenas ofereça ao estrangeiro (provido de um nome de família, de um estatuto social de estrangeiro, etc.), mas ao outro absoluto, desconhecido, anônimo, que eu lhe ceda lugar, que eu o deixe vir, que o deixe chegar, e ter um lugar no lugar que ofereço a ele, sem exigir dele nem reciprocidade (a entrada num pacto), nem mesmo seu nome". (Derrida, p. 23)
A imagem da mulher que luta na defesa de sua terra, ou do morador de rua que, coberto apenas com um saco de tecido, se apropria de um espaço em busca do mínimo possível para que possa repousar, frente à um hotel de luxo, podem ser reconhecidos como ícones dessa 'hospitalidade' delimitada por sua condição social, seu título, sua imagem.
O conforto está no abrigar o semelhante, e o incômodo em se relacionar com o 'diferente', nessa relação hipócrita que define, limita e segrega aquele que um dia o poderá abrigar.
HOSPEDARIA BABÉLICA


Ao ler os textos de Duschatzky / Skliar e Derrida uma cena absurda, mas não impossível me veio à mente:

Imaginemos uma Hospedaria que ostenta em seu portal a seguinte placa:

HÁ VAGAS?

Parece por vezes imperceptível, mas o ponto de interrogação faz uma grande diferença. Vejamos agora um possível diálogo desencadeado em frente desta placa envolvendo o dono da hospedaria um potencial hóspede:

- Bom dia!
- Bom dia!
- Afinal, há vagas ou não?
- Depende...
- Como assim depende, parece-me uma questão óbvia. Se houver quartos desocupados....
- Bom não é bem assim que as coisas funcionam por aqui. Deixe-me fazer algumas perguntas, QUAL O SEU NOME?
- Ah..é só isso! Que bom, eu tenho um nome..é João. Agora posso descer minhas malas?
- Claro que não, afinal ter um nome é o mínimo que se pode ter....Vejamos...a que grupo você pertence?
- Como assim, viajo sozinho...
- Não, a QUESTÃO é: A que tipo de pessoas você pertence?
- Tipo de pessoas.....sei lá, o que te interessa saber...sou do tipo de pessoa que paga pela hospedaria..
- Você não entendeu....quero saber a que categoria de GENTE você pertence....em qual diversidade pré- estabelecida você se enquadra...
- E eu sei lá....sou GENTE, isso não basta....
- Não porque preciso saber exatamente quem você é para saber se “HÁ VAGAS”
-????
- Receio que NÃO HÁ VAGAS!!!!!

O que há princípio nos possa parecer uma conversa um tanto quanto estranha, se olharmos com cuidado, se analisarmos os detalhes, poderemos transpor isso para o conceito de relacionamento com o outro.
Assim como em seu livro, Claudia Werneck questiona: “Quem cabe no seu TODOS?” a idéia de “hospedar” é semelhante. Afinal, quem pode ser nosso hóspede? Quem cabe em nossa HOSPEDARIA?
O textos lidos nos mostram que muitas vezes somos capazes de hospedar a diversidade, haja vista, que ela nos parece mais segura, pois acreditamos existir nela características absolutas, as quais podemos compreender, traduzir, trabalhar, entender.....basta que tenhamos conhecimento dessas características e criemos uma forma comum em que possamos exercer nosso poder de dono da hospedaria....tudo então correrá em uma normalidade desejada.
Ao contrário, deixamos do lado de fora o OUTRO singular, o bárbaro, o João, a Ana, e tantos outros de quem não se sabe nada. Como poderemos nos relacionar com ele? Eles não respondem nossas questões acerca de quem são!
Deixamos entrar a diversidade, mas não cada UM.
Em uma “Hospedaria Babélica que pensa babelicamente isto não aconteceria. Lá o OUTRO seriam todos os outros, seriam TODOS. Lá não haveria o poder que classifica e destina cada um ao seu “quarto” previamente estabelecido. Lá o diálogo que ouviríamos seria outro:
- Você pode entrar, não importa sua cultura, sua crença, sua cor, sua raça....seu NOME..
E a plaqueta nos informaria:

HÁ VAGAS


13 de mar. de 2009

Comparo, logo existo!

Inicio a minha reflexão desta semana citando o trecho abaixo de Duschatzky e Skliar (2001, 124):

"A alteridade, para poder fazer parte da diversidade cultural bem entendida e aceitável, deve despir-se, des-racializar-se, des-sexualizar-se, despedir-se de suas marcas de identidade; deve, em outras palavras, ser como as demais."

Classificar ou definir alteridade é uma forma pretensiosa que adotamos para criar padrões de comparações, regras, grupos, seleções...Afinal, é precioso definir o outro, pois sem eles como somos o que achamos que somos? Só podemos nomear alguns como normais, pois alguns outros são noemados de anormais ou deficientes ou problemáticos...Só podemos nos definir como íntegros, pois alguns outros são nomeados como imorais ou de caráter duvidoso....
A sociedade definiu e tenta invariavelmente classificar e punir aquilo que não se enquadra em suas normas, em seus padrões de normalidade. A sua lógica binária, classificatória em positivos e negativos, permite a criação de estereótipos e de medidas de reforço dos mesmos.
Finalizo aqui as minhas primeiras impressões deixando três imagens, duas questões e uma infeliz afirmação para que possamos refletir.

Por que necessitamos criar o termo "Terceira Idade" para lembrar que os idosos ainda "vivem"?







Todo imigrante só serve para trazer mais problema a um país ?





O menino da favela não aprende mesmo...





Do nome à hospitalidade...

Se Derrida nos fala do direito do estrangeiro à hospitalidade, também nos indica um direito circunstanciado ao sujeito nominável. Em suas palavras: “se me disseres como te chamas, respondendo a esta pergunta tu respondes por ti mesmo, tu és responsável diante da lei e diante dos teus hospedeiros, tu és uma pessoa de direito”. A hospitalidade exige, então, o interrogar quem chega!?
Mas serão Silvia Duschatzky e Carlos Skliar que nos apontarão o modo predominante de relação cultural, social e política do século XX: o outro como fonte de todo mal. Em suas palavras, “visibilidade e invisibilidade constituem, nesta época, mecanismos de produção da alteridade e atuam simultaneamente com o nomear e/ou deixar de nomear”.
Assim, o nome do outro, antes de mais nada, já vem travestido de representações circunscritas no ato expulsor. Fica, portanto, a pergunta: como, na educação, podemos esvaziar o ato expulsor nos termos do outro como fonte de todo mal? E mais: como podemos falar do direito à hospitalidade desvinculando-o do sujeito nominável?

11 de mar. de 2009


O que estamos fazendo de nós mesmos? Onde estão todos os outros, se aparecem apenas alguns-outros: de gênero, sexualidade, classe, etnia? Como ocorre a demonização dos outros, sob as três formas de diversidade: fontes de todo o mal, sujeitos plenos de marcas culturais, outros a tolerar? Qual é o sentido e o valor da diferença, que justifica a imposição de tudo que é feito para liquidá-la? Como encontrar o outro, sem que seja vítima ou culpado, réu e prova, testemunho e intérprete da universalidade? Como o outro pode ser posto em cena, não como objeto de ação, a ser reparado, integrado, registrado, mas como o desafio ao intercâmbio, interpelações a nossos símbolos e identidades?

8 de mar. de 2009

Para que compreender o outro?


O primeiro capítulo do livro, ao trazer um sumário de cada um dos capítulos do livro, nos dá a dimensão do que quanto o tema é complexo e o quanto é difícil compreender a relação do outro, outridade, sem cair na relação dualista que acaba por fazer as comparações entre eu e o outro, tendo sempre o eu ou um padrão definido pela sociedade como referencial: o aluno “modelo”, a família nuclear, o mulher modelo, o homem bem-sucedido. Deixar o outro ser o outro. Não se define o que é ser o outro. É simplesmente ser o outro para não incorrer o risco de tornar a existência do outro apenas o que se tem em comum com o eu e desconsiderar o ser integral que é o outro.


“o que se quer, ao compreender (o outro), é converter o passado em presente, o distante em próximo, o estranho em familiar, o outro nele próprio, o externo em interno, o que não é seu em seu (...) Aquilo que ele compreende o faz melhor: mais culto, mais sensível, mais inteligente, mais rico, cheio, maior, mais alto, mais maduro.” (pg. 19)

A pluralização dos seres?

“Babilônios somos” faz surgir algumas dúvidas...

A necessidade que o homem tem de dominação, de pertencer a um grupo, de identificação com um plural, seja na língua, nas tradições, nos ideais ou em qualquer que seja o ponto, faz com que se pluralize dentro da singularidade de um grupo tornando-se uns.

E os demais, o que seriam? Os “outros”? De repente os “outros” então seriam os singulares com identificações plurais entre si?

Além do mais se reflete que as políticas dominadoras transformam suas verdades como únicas e discursam a recepção desses “outros” em suas comunidades, discutem uma forma de dominá-los para que possam viver em suas sociedades. E para que? Fica essa questão.

Estarão os homens preocupando-se com as necessidades dos “outros”? Ou necessita-se aumentar o número de “outros”? Ou então, será que os “outros” querem juntar-se e tornassem um? Será tudo isso junto? Ou nada disso tem haver? E continua-se a refletir sobre...

Babilônios...no século XXI

"Babel é um sintoma do que nos acontece, nos inquieta e nos dá no que pensar no que de confusão e dispersão existe em nós mesmos".
Olhamos para a realidade em que vivemos e percebemos-nos todos babélicos. Queremos construir um mundo melhor, saúde melhor, educação melhor, ... e o que percebemos é o caos em que vivemos, somos e existimos.
Os professores, enquanto profissionais do humano conscientizam-se de sua identidade profissional, ser professor no século XXI é ser babélico, é ser alguém que acima de tudo seja capaz de relacionar-se consigo mesmo, com os outros e com a singularidade do outro, atento e respeitoso à diversidade.
Este comportamento exige crítica e reflexão do professor, desejo de reconstrução do Humano, exaltar a educação dos sentimentos tão quebrados, do amos e dos valores. Como forma de ajudar a "refazer a Unidade" do humano, para que aprenda a ser, para que se encontrem a si próprios, aprendam a ser solidários e a se respeitarem uns aos outros.

Aluna especial: Dirce Trainoti

Princípio da incerteza

Assim que iniciei a leitura do texto "Babilônios Somos" senti-me tomado por uma proposta de leitura voltada para o itinerário mítico e isso me fez lembrar do princípio da incerteza que está presente na noção de complexidade apresentada por Edgar Morin. Ele diz que qualquer problema do homem, do sujeito, só pode ser entendido à medida em que a gente pressupõe os dois itinerários formativos de sujeito: o racional, lógico e o mágico, imaginário, mítico. E é nessa convergência que o sujeito se constrói.
Discorrer sobre babilônios que somos, coloca-nos diante da distinção do estado racional e do estado poético. Racional no sentido de estarmos reproduzindo as regras de cultura. Poético no sentido de libertário e nós tendemos a trabalhá-lo pouco, mesmo porque o sujeito vive muito mais "tranquilo" no racional do que no poético.
Quero dizer que a leitura do texto, nos coloca no estado poético ao nos envolver no mito bíblico de Babel e com facilidade me senti dentro do próprio mito à medida em que me deparava com tantas questões. Fui tomado pela confusão babilônica. Essa confusão vai se configurando conforme Jorge Larrosa e Carlos Skliar vai apresentando outros autores citados e assim se colocam a pensar novas dinâmicas de identidade e liberdade, sempre em relação à condição babilônica.
Na minha compreensão, o sujeito é mutante diante da vida que muda a cada instante. Por isso, o que dizer do outro? Ou, o que dizer de si mesmo? Assim que digo algo, esse sujeito, "o outro" ou "eu mesmo" já mudou. Então, o sujeito não pode ser definido, enquadrado? Se pensarmos quer pode, como definir se, ao terminarmos de interpretar, analisar ou fazer qualquer tipo de apreciação, isso já está desatualizado?
Parece-me que o sujeito é incapturável, ou seja, tudo que se diz a respeito dele, já se torna incompleto. Quando afirmo a diferença, já não é mais como afirmei.
Penso que para mim o texto mostrou a importância de ousar sair das competências disciplinares, de seu domínio, para refletir sobre os problemas do mundo. Penso ser importante ter obsessão pelo erro e pela verdade, porque é isso que a incerteza.
Todos nós que transitamos por aí, saímos de nossas competências disciplinares e nos tornamos incertos na vida, na subjetividade, no conhecimento, na razão, na poesia, no amor.

Santa Babilônia

Necessidade de compreender,organizar,controlar...se não, como explicar!

O homem não sabe viver com o que foge ao seu domínio,não suporta viver o desconhecido!

Incrivel Babilonia,Santa Babilonia! Somos sim,constantemente, somos babilonicos... Só assim temos desequilibrios e buscamos equilibrios, só assim crescemos e evoluímos!

Agora, tentar explicar,sistematizar,organizar essa suposta "confusão", talvez seja incensatez." O que se quer ao compreender,é converter o passado em presente, o distante em próximo, o estranho em familiar, o outro nele próprio, o externo em interno, o que não é seu em meu... Aquilo que ele compreende o faz melhor..."(p.19). A necessidade do homem de Buscar o belo,o justo, de Ser o belo, o justo; o leva a um padrão por ele estabelecido ,para ele estabelecido, que angustia,que o faz criar refugos como a tolerância.

TOLERAR... o que, quem, como!? Pobre homem... que deixa de ver o homem, de ser o homem... para explicar e tolerar o homem...

Somos diversos,somos singulares!Somos!

Sawabona, cumprimento usado no sul da Africa,quer dizer: " Eu te respeito,eu te valorizo,você é importante para mim" .
Em resposta,as pessoas dizem: Shikoba que é: "Então eu existo pra você"

7 de mar. de 2009

Babel, um espelho?

Penso que a reflexão sobre a diversidade está intimamente relacionada com um incômodo humano, um desconforto social. E isso é maravilhoso!!! Maravilhoso porque nos tira do lugar que estamos, no conforto de nossa existência para observar ao outro e nos observar a partir da existência do próximo.
Assim o afirmo, por crer que ao pensar sobre a diversidade, a diferença, a alteridade, a outridade, me percebo como um ser de relações com o mundo e para o mundo.
Me reconheço como pessoa a partir do meu olhar na direção do outro. Também, reconheço a minha diferença nesse processo, afinal, o modelo do outro está para as minhas projeções como o sou para ele. O que busco de perfeito no meu próximo, primeiro foi concebido no meu interior... e o que busco de imperfeito também.
Que parâmetros são esses, com tal presunção em ‘classificar’ normalidade e anormalidade? Que paradigma construído historicamente em elementos ambíguos, duais, maniqueístas é capaz de ‘definir’ os que ‘são’ dos que ‘não são’?
Definir é uma pretensão social que caminha com passos distantes da relatividade das possibilidades classificatórias. Como pode um grupo classificar aquilo que é belo, bom, normal em detrimento do conhecimento dos demais?
E aí está a inquietação babélica do texto. Se pensamos em Inclusão é porque primeiramente partimos para a Exclusão, a deixamos tomar forma e espaço em nosso meio, em nosso cotidiano e até mesmo em nosso ser, quando negamos nossas predileções, em nossos gostos ou anseios, em busca da participação em algo maior, em um grupo, em uma ‘sociedade’.
Esse texto, em sua riqueza de palavras, nos convida a pensar sobre essa ‘Babel’ sobre a qual refletimos, sobre a necessidade de administrar a Diversidade e administrar as diferenças. Ele nos permite nos conceber como históricamente babélicos, não pela herança religiosa que nos foi legada, mas pela condição histórica de nossos antepassados, daqueles que antes de nós por essa Terra estiveram e construíram as bases daquilo que nos identifica hoje e as bases daquilo que desejamos mudar.
Quem sou eu? Quem é o outro? Não somos todos iguais ou todos diferentes. Somos seres semelhantes constituídos em particularidades.
Somos únicos, mas podemos ser diluídos pelos demais. Somos corpo, somos alma, somos pensamento.
E somos a diferença em potência, pois a todo instante estamos sujeitos a nos fazer ‘diferentes’, a sair da ‘normalidade’ (se é que ainda se crê estar nela).
A Estética nos propõe que ‘belo’ é tudo aquilo que está ‘simetricamente equilibrado’... mas qual parâmetro é capaz de suprir a necessidade individual de se estabelecer a diferença?
Quantos questionamentos ainda nos cabem nesse processo? Que beleza é a reflexão sobre a própria existência!
Assim, essas palavras finais podem contribuir ainda que minimamente para traduzir a inquietação da mente, do coração... da própria alma:

"O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa!" (Eduardo Galeano)

Babilônios? Será que somos?

Pressupõe-se, que ser diferente é enxergar as pessoas com suas possibilidades, dificuldades e virtudes próprias, enfim respeitando a individualidade. O deficiente, seja patológico ou social, não é um ser diferente das demais pessoas.
Hoje em dia, o pensamento Babilônico não consiste em reinventar o paraíso e sim adequar a forma de vida. Na verdade não se procura uma perfeição social, mas uma administração da diversidade cultural e reorganização da unidade social.
Não há necessidade de transformações para estabelecer uma convivência harmoniosa entre estas partes que pode ser preservada com a igualdade e a singularidade de cada um, construindo uma unidade comum.
Rogério Sardelli Zofanetti

Babilônios somos...babilônia sou!

Ao iniciar minha reflexão me veio a mente a seguinte poesia declamada pela trupe do Teatro Mágico....
“Amadurecência
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli


A poesia prevalece!!!
O primeiro senso é a fuga.
Bom...
Na verdade é o medo.
Daí então a fuga.
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia não passar,
“O ser vil que passou pra servir...
Pra discernir...”
Pra pontuar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Não deixar escoar a dor!
Nunca deixar de ouvir...

com outros olhos!”


“Segundo Laing (1986: p.78), “não podemos fazer o relato fiel de "uma pessoa" sem falar do seu relacionamento com os outros.”A identidade é definida pela relação do indivíduo na relação com outros indivíduos, isto é, cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio. É na relação entre o EU e o OUTRO que se constrói a identidade do EU.” (Antonio Ozaia da Silva em http://www.urutagua.uem.br//ru18_mtrag.htm)
....mas.... quem sou eu?? E quem é o outro?
Após a aula, voltei para casa pensando nessas duas perguntas....ao ler o texto, reler e refletir, refletir...tal questão me inquietou ainda mais. Por que idealizar no outro a minha imagem? Se não sei nem mesmo qual é essa imagem? Quem somos nós?

Nunca me imaginei trabalhando com “inclusão” e de repente estava eu lá trabalhando com algo que não sabia sequer como deveria lidar, confesso que no início tive medo...receio do novo, do diferente, mas de repente me vi completamente envolvida e confesso até “apaixonada”. Nessa minha reflexão fui buscar um relatório que fiz no início dessa prática onde escrevi: “uma escola que trabalhe a criança de forma integral, que deseje a formação de sujeitos autônomos, que respeitem os outros, deve trabalhar também com a diferença para que esta seja aceita como "normal". Mas confesso que tenho muitas dúvidas quanto ao como ajudar nessa inclusão, embora acredite que não existe um “como”, pois se para educação integral da criança não existem receitas, como haveria de existir para inclusão?”...e continuo achando que não existe um “como” e sim o dia a dia, o respeito as suas diferenças, assim como o respeito deles as minhas diferenças...afinal somos todos diferentes não somos? E quem somos nós?

Quem sou ainda não sei...estou em permanente construção pessoal, profissional, social, cultural....mas penso que devemos criar espaços que permitam cada um ser como é, cada um aprender, apreender e reaprender a sua maneira, criar e recriar, enfim SER quem realmente é, ser uma pessoa livre e consciente, afinal Paulo Freire já dizia "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo". Durante a leitura do texto muitas partes me chamaram a atenção, muitas mexeram comigo, muitas me deixaram dúvidas, perguntas,...me tiraram do eixo... confesso, mas uma em especial me passou tranqüilidade... “Pensar a transmissão educativa não como uma prática que garanta a conservação do passado ou da fabricação do futuro, mas como um acontecimento que produz o intervalo, a diferença, a descontinuidade, a abertura do porvir”. (p.21)...enfim babilônios somos...babilônia descobri que sou!

Com base em "Habitantes de Babel"

As discussões elaboradas e debatidas em sala de aula(03/03/2009) aliadas á leitura sugerida (Habitantes de Babel),basicamante mobilizam e muito nossos "sentidos".Pensa-se que nesse universo de condições, situações diversas e diversificadoras há uma espécie de angústia quanto a sentirmos nesse mesmo universo, e isso é árduo pois mais do que saber, é o sentir.Assim, com base nas discussões de sala e na leitura, depreende-se que a verdade é que a diferença é realmente imprevisível e desconhecida,é o que os autores e organizadores da obra nos colocam e nesse sentido, como educadores, sentimos que ao invés de trabalharmos para a modelagem de sujeitos que "sigam"uma sociedade, temos de no minímo pensar em aceitar esses sujeitos com os quais lidamos em sua subjetividade,em seu direito de ser,de ser o que são.No decorrer da leitura depara-se com o termo pluralidade do significado,termo esse que, de maneira simples,nos leva a pensar a questão da base daquilo o qual quase nunca pensamos,o fato de que nossa existência é e pode ser ampla.Com certeza isso fomenta inúmeras inquietudes,e não á toa os autores pouco á pouco apresentam á seus leitores oportunidades de pensarmos o diferente.Isso é muito rico,é belo e como os próprios exemplificam com Jean Luck Nancy, "pensemos com liberdade,livremo-nos das manipulações.Agora já um pouco mais imersos nesse mundo,somos convidados a refletir sobre nossas próprias inseguranças,aquilo que há de mais intimo e está em todos nós,assumamos, a insegurança, criadora do medo de abandonarmos a nós próprios.
Interessantíssimo pensarmos a possibilidade de flexibilidade de grupos humanos,culturais, os quais, e algumas vezes preconceituosamente pensamos como sendo padronizados e previsíveis,não.Há nesses grupos o que se chama de "estar sendo",e isso é amplo, livre também.
Um outro conceito sugerido diante dos escritos dessa obra é também o de compreensão enquanto mediação e isso é fabuloso do ponto de vista da relaçao humana,inclusive a que temos conosco mesmos.No mais,chama-nos muito a atenção o fato da complexidade da lígua e da linguagem, essas dua inseparáveis, tão significativas, tão ricas, tão libertadoras,a chave de nossa subjetividade.

Lenda de Narciso

“Dejar que el otro sea como yo soy, dejar que el otro sea diferente de mi como yo soy diferente(del otro)...” De repente esta frase me remeteu a figura de Narciso personagem da Mitologia Grega na sua incansável busca por sua beleza e “perfeição”, mas me chama a atenção é a posição do lago quando questionado sobre a beleza de narciso. Penso eu, que a resposta do lago pode suscitar em nós um diálogo entre os textos de Pardo e Sckiar quando nos mostra que a diferença cintila e que buscamos no outro aquilo que está em nós.
Para ilustrar este questionamento transcrevo a Lenda de Narciso para que juntos possamos pensar se o mesmo não pode ser um representante a altura da identidade e da diferença ou de nós mesmos humanos etnocêntricos? “E talvez não seja exagerado dizer que Babel expressa também a ruína de todos os arrogantes projetos modernos e ilustrados, com os quais o homem ocidental quis construir um mundo ordenado à sua imagem e semelhança, à medida se seu saber, de seu poder e de sua vontade, por meio de sua expansão racionalizadora, civilizadora e colonizadora”


“Na Mitologia Grega, Narciso (do Grego Νάρκισσος), era um herói do território de Téspias na Beócia, famoso pela sua beleza e orgulho. Era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
A Lenda de Narciso
Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar sua beleza num lago.
Era tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.Quando Narciso morreu, vieram as Oreiades - deusas do bosque -
e viram o lago transformado, de um lago de água doce,
num cântaro de lágrimas salgadas.- Por que você chora? - perguntaram as Oreiades.- Choro por Narciso - respondeu o lago.- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - continuaram elas.Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque,
você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.- Mas Narciso era belo? perguntou o lago.- Quem mais do que você poderia saber disso?
- responderam surpresas as Oreiades.
- Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.O lago ficou algum tempo quieto e por fim disse:- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo."Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas próprias margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos minha própria beleza refletida”.

E nós o que vemos refletido nos outros, portadores da diferença, a não ser a imagem idealizada de nós mesmos? A diferença não é uma afronta para a nossa imagem?