4 de jun. de 2009

Sair da dicotomia


No sentido de sair do formal, do verdadeiro, do que se constitui como saber pedagógico legítimo, a proposta é de não estabelecer e fechar esquemas, mas permitir aberturas sempre novas, no sentido de fugir, e, nessa fuga, ser errante.
Vejo que é imprescindível buscar o que está entre a pedagogia tradicional e a renovadora, ou seja, sair da dicotomia. O que é isso que está entre essas duas propostas? Formas de subjetividade?
Seja o que for, não pode se fixar, determinar, porque a qualquer momento poderá ser mudado. Não podemos mais cair na tirania, que fecha tanto os sujeitos como os saberes.
Trata-se de tornar móvel, sempre estar disposto a realizar uma manobra, e, para isso, é preciso desterritorizar os espaços e posturas marcadas para cada situação que se possa prever.
A postura móvel pode ajudar a evitar formas de imposição à medida em que não se fixa e que precisa ser revista a todo momento.
O que é móvel nos coloca numa atitude de busca desse espaço entre a pedagogia tradicional e renovada, espaço que não aprisiona o que surge, e, a proposta que surge, deve mudar antes que completemos uma volta inteira ao seu redor. Sob nenhuma proposta pedagógica podemos fazer um círculo em torno dela, senão ela perde o sentido que lhe é próprio.
Durante toda a nossa prática escolar, é preciso nos abrir para ritmos diferentes. É como se essa proposta pedagógica não pudesse ser representada, porque se isso acontece, torna-se ou tradicional ou renovada, é puxada para as extremidades, nas quais temos a tendência de nos agarrar.
Trata-se, portanto, de um movimento de liberdade. Encontrar, propor freqüentemente uma proposta pedagógica é o que nos faz passar além da dualidade. Saber transitar nesse espaço, no qual vai surgindo uma terceira proposta, que não se fixa, que ao mesmo tempo une e se diferencia das extremidades, atingindo uma alteridade.
Arriscando uma forma poética de dizer isso, podemos usar a metáfora do beijo. Uma realidade ligada a um e ao outro, mas completamente diferente de cada um. É o que vai além da unidade indiferenciada e além da dualidade.
Nem um, nem outro, mas um espaço livre, aberto, imprevisível, não fixado.

“A vida é muito bonita
basta um beijo
e a delicada engrenagem movimenta-se,

uma necessidade cósmica nos protege.” Adélia Prado