18 de abr. de 2009

"Nós não somos , nós estamos"


A ausência de uma teoria da identidade e da diferença nas atuais discussões do multiculturarismo faz Silva nos questionar qual as implicações políticas de conceitos como identidade, diferença, diversidade, alteridade, sendo que os mesmos estão numa relação de extrema dependência. Somos nós que fabricamos no contexto das relações culturais e sociais. São resultado de um processo de produção simbólica e discursiva. Questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam, elas têm que ser representadas. Como tal, a representação é um sistema lingüístico e cultural: arbitrário, indeterminado e estreitamente ligados a relações de poder. É aqui que a representação se liga à identidade e a diferença. Quem tem o poder de representar tem o poder de definir e determinar a identidade.
Fazendo um contraponto com Costa, Ronaldo Pamplona em seu livro “Onze sexos”, quando diz que “nós não somos, nós estamos”, ele afirma que a sexualidade não é uma experiência estanque e os seres humanos não podem ser classificados pela forma como vivem. Desta classificação nascem os estereótipos e os preconceitos e as oposições binárias masculino – feminino. A possibilidade de cruzar fronteira e de estar na fronteira, de ter uma identidade ambígua, indefinida é uma demonstração do caráter artificial imposto pelas identidades fixas.
Não é difícil perceber as implicações pedagógicas e curriculares dessas conexões. Cabe aqui uma análise com referência a mídia, livros didáticos e a literatura oferecida em nossas escolas, estão, na verdade inserindo-nos em um sistema que contribui para reforçar ainda mais a produção da identidade como uma questão de perfomatividade.
Entendo que devemos ver a multiculturalidade não como uma técnica pedagógica ou meramente uma metodologia, mas uma opção social, cultural, ética e política a ser assumida pelas equipes docentes, que deverão decidir e concretizar quais aspectos a produção da identidade e da diferença serão atendidos, como agir diante delas, com quais recursos deverão fazê-los explicando-as em seus projetos educativos e curriculares.