17 de mai. de 2009

Sujeitos

Quem sou eu para o outro? Quem é esse outro para mim? Como desenhar nossas subjetividades? Quanto conheço desse outro? Quanto ele conhece de mim?Quanto eu mesmo conheço de mim?

Infinitas outras questões poderiam ser colocadas nessa seqüência tornando-a cada vez mais complexa e sem respostas precisas. O texto de Carlos Moya nos diz que nosso conhecimento do outro é sempre objetivo. Assim, se pensarmos no inverso como verdadeiro, podemos dizer que ser sujeito é algo difícil de se falar no singular. Parece que somos um sujeito-composto. Composto daquilo que pensamos e construímos em nós a partir do outro, desse outro que também nos compõe e que é composto por nós.

Essa composição do EU a partir do OUTRO se mostra complexa. Mesmo sem admitirmos, nosso próprio eu nos escapa.

Somos conhecidos e conhecemos o outro apenas objetivamente, como um rosto, como um enigma, mas mesmo assim insistimos em enunciá-lo, em narrá-lo. Fazemos isso embasado em um poder que julgamos ter. Nessa narração, na maioria das vezes, nosso poder nos confere o direito também de classificá-lo e categoriza-lo.

O roubo da subjetividade do outro está por todo lado e na escola não poderia ser diferente. O discurso de “formar sujeitos” se confunde com “formar sujeitados”, afinal, temos permitido com nossa pedagogia que nossos alunos tenham o seu ponto de vista sobre a realidade? Temos estimulado e valorizado a sensibilidade de nossos alunos? Temos contribuído para o desenvolvimento de sua autonomia, temos lhes dado o direito de escolha e decisão? Temos nós conseguido ser sujeitos?


“Tudo caminha, tudo flui, nada está imóvel. O universo é como um rio: ninguém se banha duas vezes no mesmo rio.” (Heráclito)


Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?
Por que essa pergunta é tão complexa de ser respondida pelas pessoas, principalmente na modernidade líquida? Já perceberam como demoramos a responder isso nos perfis de blogs, sites de relacionamentos, etc...ou como mudamos constantemente esse perfil?
O texto “El sujeto enunciado”, de Carlos Moya, me fez refletir muito sobre a construção da subjetividade. Construção essa que me parece ser permanente e constante, através das interações que estabelecemos a todo tempo com os outros, com o mundo e conosco novamente. Essa subjetividade carregada de emoções, sentimentos e pensamentos é que faz com que nos relacionemos com o “outro” de uma ou outra maneira; e através dessa relação reconstruímos ou resignificamos novamente muitas de nossas emoções, sentimentos e pensamentos em um constante ciclo.
Pensando na educação de nossos alunos...será que reconhecemos sua subjetividade....se muitos de nós não reconhecem sua própria construção subjetiva???

Onde está a bola?


A figura acima nos desafia a perguntar: onde está a bola? Para além da ilusão de ótica, Carlos Moya pergunta pelo sujeito enunciado, partindo de uma percepção crítica do tratamento dado pela filosofia analítica à subjetividade – uma ilusão cartesiana.
A mentalidade cartesiana, predominante na sociedade moderna, com a sua ênfase na distinção e no particular, nos impede de ver a realidade como um todo, de ver as redes de relações, enfim, a complexidade da vida. Diante de problemas sociais sistêmicos, como a exclusão educacional, esta visão analítica, que vê a realidade por partes, não é suficientemente esclarecedora e não sensibiliza as pessoas para ações solidárias rumo à construção do bem comum.
Na perspectiva de Moya, um sujeito possui seu ponto de vista da realidade e este ponto de vista é constituído por crenças e desejos, caracterizados pela tensão e discrepância potencial entre estes e a realidade das coisas. Assim, a subjetividade compõe-se de intencionalidade (desejo), sensibilidade (sensações e sentimentos) e praticidade (eleição e decisão) – sendo estas eixos constitutivos do sujeito. Portanto, a subjetividade constitui-se no reconhecimento recíproco que passa, evidentemente, pela primeira pessoa. Ou seja, "o sujeito preserva sua autoridade sobre o que percebe, sente ou deseja em virtude dos aspectos do mundo aos quais dirige sua atenção, mas não em virtude de sua relação imediata com objetos e propriedades do fenômeno, interpostas entre ele e o mundo."
A crítica de Moya ao reducionismo epistemológico é bastante pertinente, pois reduzir o conhecimento é reduzir o sujeito, daí a dificuldade do naturalismo redutivo (conducionismo lógico, materialismo, funcionalismo) em lidar com a subjetividade. Acaba diluindo-a na busca de uma aproximação preciosista do objeto.
Resta-nos como educadores, o desafio da pergunta: que sujeito temos enunciado? Nosso entendimento da subjetividade reduz ou emancipa os indivíduos com os quais trabalhamos? Segundo Jung Mo Sung, em Sujeitos e Sociedades Complexas, "a única forma de preservamos a nossa sujeiticidade é não aceitar sermos reduzidos a nenhum papel social". Estaríamos reduzindo nossas crianças ao exercício de determinados papéis sociais?

idiossincrasia



idiossincrasia




Do Gr. idiosygkrasía < ídios, próprio sýkrasis, constituição, temperamentos. f., Disposição do temperamento de um indivíduo para sentir, de um modo especial e privativo dele, a influência de diversos agentes;Reação individual própria a cada pessoa;Maneira pessoal de ver o mundo.



Após a leitura do texto “El sujeto Enunciado” de Carlos Moya, através da minha maneira pessoal de ver o mundo relacionei a leitura com outros dois textos que penso contribuir sobremaneira com as questões levantadas pelo autor em relação a 1º e 3º pessoa.
Oliver Sacks em seu livro Um antropólogo em Marte, relata uma história verídica a respeito de um paciente seu que ele chama “O caso do Pintor Daltônico”, que diz assim:
No início de março de 1986, recebi a seguinte carta:
Sou um artista consideravelmente bem sucedido que acaba de passar dos 65 anos. No dia 2 de janeiro deste ano eu ia dirigindo meu carro quando levei uma trombada de um pequeno caminhão, do lado do passageiro. Durante a consulta no ambulatório de um hospital local, me disseram que eu tinha sofrido uma concussão. Durante o exame de vista, descobriram que eu não conseguia distinguir letras ou cores. As letras pareciam caracteres gregos. Minha visão era tal que tudo me parecia visto de um televisor preto - e-branco. Depois de alguns dias, passei a distinguir as letras e fiquei com visão de águia, consigo ver minhoca se contorcendo a um a quadra de distância. A precisão do foco é inacreditável. Mas estou completamente daltônico. Procurei oftalmologistas que nadam sabem sobre o daltonismo. Procurei neurologistas, inutilmente. Mesmo sob hipnose, continuo sem distinguir as cores. Passei por todo tipo de exame. Todos os que vocês conseguem imaginar. Meu cachorro marrom é cinza-escuro. Suco de tomate é preto. Tv em cores é uma mixórdia...”


Vale também lembrar da história que Benjamin (1987b, pp.219-220) conta, falando de um rei que, apesar de muito poderoso, não se sentia feliz e se tornava cada vez mais melancólico. Mandou um dia chamar seu cozinheiro particular, pedindo-lhe que fizesse uma omelete de amoras tal qual havia saboreado há 50 anos, na sua infância. Nessa época, seu pai guerreava e, tendo perdido a guerra, tivera de fugir. Depois de muito vagar pela floresta famintos e fatigados, o menino-rei e o pai encontraram uma choupana onde uma velha os fez descansar e lhes preparou uma torta de amoras. O cozinheiro – que recebera do rei, como promessa, a mão da filha e o reino, caso soubesse fazer aquela omelete, ou a morte, em caso negativo – escolhera de antemão morrer, já que, embora possuísse os ingredientes e a receita da torta, jamais conseguiria temperá-la com o gosto do perigo da batalha, da vigilância do perseguido, do calor do fogo e da doçura do descanso.
Penso eu duas histórias uma verídica e outra ficção com ingredientes indissiocrassicos da 1º pessoa que qualquer teoria objetiva da 3º pessoa acerca da mente é necessariamente incapaz de descrever adequadamente certos fatos essenciais a cerca da experiência subjetiva