23 de mar. de 2009

O caso da bomba

Na condição de pesquisadora do tema (In)disciplina na escola não pude me conter em apresentar algumas reflexões a partir do trabalho que realizei em algumas escolas, o qual resultou no livro (In)Disciplina na escola: cenas da complexidade de um cotidiano escolar, de minha autoria, a respeito do caso da bomba.
Segundo estudos por mim realizados, a partir de relatos de coordenadores, das descrições das observações em sala de aula, dos comportamentos das crianças em questão, e das atitudes apresentadas com os professores, nas diversas oportunidades em que foram presenciadas as cenas julgadas de indisciplina, e buscando conhecer melhor os sujeitos envolvidos no que diz respeito a caracterização desses sujeitos, tanto da escola particular quanto das públicas investigadas, tratou-se de pessoas que traziam de casa problemas familiares os mais diversos, constituindo-se, assim, vítima de uma circunstância, e não vilão de uma turma, como a maioria dos professores tentaram caracterizá-los.
Como vimos, na maioria das decrições das aulas observadas, a prática que ainda se perpetua entre os professores, principalmente no tratamento com esse perfil de aluno, é o de sua retirada da sala de aula, ou encaminhamento para outras instâncias, sempre que se faz presente uma situação de confronto. O que agora, com esse caso da bomba, só vem reafirmar tal posição.
Sabemos que as carências sofridas, existem em virtude de vários fatores, e na maioria das vezes, não são bem compreendidas por muitos professores, que não entendendo a agitação do aluno, se irritam a ponto de não desenvolverem estratégias de trabalho, com posicionamentos ético-afetivos de caráter inclusivo, optando pelo confronto, e até exclusão, situação constante nas escolas.
Nos dias atuais, temos como questão mais urgente da educação, fazer com que o aluno que se encontram nas salas de aula, lá permaneçam.
Nesse sentido, cabe à ação docente a compreensão do aluno que é tomado como problema, como um porta-voz de relações ambíguas, bem como a permeabilidade à mudança e à experimentação de novas estratégias que potencializem o binômio competência/prazer como um tipo de dever do dia-a-dia(Aquino, 2000).
De acordo com Aquino, em seu livro Do Cotidiano Escolar(2000), é preciso reinventar continuamente os conteúdos, as metodologias, as relações, o cotidiano. Dessa forma, para que o aluno possa acompanhar as mudanças que hoje se fazem presentes, far-se-á necessário adequar-se a um outro tipo de disciplina, não mais a do silenciamento ou da obediência, mas a do desejo de se fazer partícipe, vontade de conhecer e colaborar. Que a chamada "indisciplina" possa ser tomada como um movimento organizado, e o barulho, a agitação e a movimentação passem a ser catalisadores do ato de conhecer.
Será que alguém parou para pensar o que se passa na cabeça de uma pessoa que resolve jogar uma bomba em uma escola? Será que os prováveis sujeitos de uma ação como essa foram consultados em algum momento para dizerem que tipo de escola gostariam de ter? E que contribuição poderiam dar para torná-la melhor? Até que ponto, nós professores, também contribuimos para a instalação da indisciplina na escola?
Um dado que também me chamou a atenção no período do desenvolvimento da pesquisa diz respeito aos atrasos, abonos, afastamentos, licenças, faltas etc, que se faziam constantemente presente no cotidiano dos professores, principalmente, da rede pública de ensino, e o que concorria também para a desmotivação do aluno que sequer era avisado com antecedência de tal ausência. Acresente-se ainda, o prejuízo na qualidade da educação que era oferecida em virtude dos aligeiramentos dos conteúdos e da desadequação dos mesmos, quando apresentados.
Eis aqui, apenas alguns dados para refletirmos acerca de que a indisciplina não é de responsabilidade exclusiva do aluno, assim como não é só do professor, nem da instituição. Trata-se de um assunto bem complexo, e analisando a partir da ótica do pensamento complexo, trata-se de um fenômeno que possui uma quantidade extrema de interações e interferências estabelecidas entre um grande número de unidades, que envolvem incertezas, indeterminações e fenômenos aleatórios.
Vamos refletir bem a questão e não cometamos injustiças.
Cândida Alves

Mundo pequeno?

Suzana muda-se de cidade e resolve se matricular em uma academia. Lá chegando, conversa, conversa vem...descobre que o dono da academia é filho de sua ex-dentista. "Mas que mundo pequeno!", exclama Suzana.

Será mesmo o mundo pequeno? Ou será que circulamos pelos mesmos espaços que as pessoas com as quais nos identificamos? Colocamos sapatos similares e caminhamos por espaços similares, não percorrendo os mesmo espaços vazios...

Encontros e desencontros - olhando no espelho

ENCONTROS E DESENCONTROS – OLHANDO NO ESPELHO.


Tudo que lemos no texto de Bauman parece ter muito sentido. Mas a questão é: tem sentido para mim?
Moradora de condomínio e freqüentadora esporádica de centros de compras fiquei me sentindo como mais uma gota na liquidez desta sociedade. Realmente não há encontros, mas sim, sucessivos desencontros que nos levam a acreditar em um comum inexistente.
A frase famosa e muitíssimo conhecida: “nenhum homem é uma ilha”, ficou soando em minha mente....será? pode até ser, mas o que visualizamos é um arquipélago de solidões....um monte de ilhas próximas, mas com muita água nos separando....
Estranhos! Eis uma definição acertada para nossa relação com o outro. Todos temos sido estranhos a todos! Protegemos-nos da estranheza do outro e para isso contamos com a civilidade, ela nos protege de sermos pesados aos outros, e é claro, ficamos contentes com a reciprocidade.
Estranhamos o diferente, pois a “diferença requer confronto diante da alteridade do outro, clarificação e acordo..” Confronto, clarificação, acordo..estamos prontos pra isso? Ou ainda, queremos isso? Parece-nos mais fácil deixar o estranho fora de nosso espaço, afinal trabalhamos tanto..merecemos descansar, caminhar pelas nossas ruas aquém dos muros sem precisar presenciar estes tantos outros estranhos. É tão bom abrir a janela de nosso quarto aquém do muro e ver a limpeza das ruas, as árvores, pessoas saudáveis caminhando com seus animais de estimação. Que comunidade, que ordem!
Mas infelizmente temos que sair... mas no fundo parecemos acreditar que em breve isso não mais será necessário....vamos conseguir trazer tudo o que queremos para cá do muro. Por enquanto ainda precisamos sair..e estranhamos...estranhamos os meninos mal vestidos dos cruzamentos, os velhos dormindo nas ruas, o deficiente, o estrangeiro, o OUTRO.
Mas nossa passagem por eles ainda é inevitável....mas atravessamos e deixamos para trás. Se precisarmos permanecer em lugares com esses estranhos, cuidamos logo de que sua presença seja meramente física...nada de encontros.
Infelizmente, a escola tem sido um lugar de desencontro e estranheza...o estranho já foi um exilado desse lugar....seu lugar era em outros muros...Agora, permitimos sua presença física, mas aniquilamos sua alteridade.
Os muros.. de Berlin, dos condomínios, dos shoppings Center, das escolas, do nosso EU..precisam ser quebrados todos os dias!