6 de mar. de 2009

Para que tolerar ?

Babilônicos somos...Somos um misto de coisas, sentimentos, características, vivências. Não somos iguais, mas também não somos diferentes. O que é ser diferente? Como posso classificar algo ou alguém como diferente, se para o outro também posso lhe ser diferente?
Viver em mundo aparentemente confuso e atordoante, nos leva a busca incessante de organizar, classificar, saber sobre...Afinal, como poderemos viver harmoniosamente, sem agrupar os "iguais", separando destes os "diferentes"??? Como poderemos controlar, sem conhecer a fundo com o que estou lidando? Quem sou eu, quem é você, quem somos nós para determinar padrões de regularidades que apontam o que será normal ou anormal?
Não cabe a ninguém tolerar...Tolerar, verbo tão eficaz que para mim expressa a abstração do substantivo "pena"...Pena esta que nasceu da arrogância: tolero o que é inferior a mim, pois sou nobre o suficiente para isso. Este texto me fez pensar sobre a tolerância assim: a pena daquilo que julgamos inferior a nós...Quanta arrogância a nossa! Termino o meu comentário, deixando mais uma impressão pessoal sobre o texto...
As pessoas não pedem para ser aceitas, elas são o que são...A sociedade que a revelia cria padrões de "aceitação" do outro, reforçando a exclusão e falta de consciência do que realmente o Outro representa.




PODER BABÉLICO

Eis a passagem bíblica que serviu de referência para o texto lido pelo grupo...


Naquele tempo todos os povos falavam uma língua só, todos usavam as mesmas palavras.
Alguns partiram do Oriente e chegaram a uma planície em Sinar, onde ficaram morando.
Um dia disseram uns aos outros: —Vamos, pessoal! Vamos fazer tijolos queimados! Assim, eles tinham tijolos para construir, em vez de pedras, e usavam piche, em vez de massa de pedreiro.
Aí disseram: —Agora vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro.
Então o SENHOR desceu para ver a cidade e a torre que aquela gente estava construindo.
O SENHOR disse assim: —Essa gente é um povo só, e todos falam uma só língua. Isso que eles estão fazendo é apenas o começo. Logo serão capazes de fazer o que quiserem.
Vamos descer e atrapalhar a língua que eles falam, a fim de que um não entenda o que o outro está dizendo.
Assim, o SENHOR os espalhou pelo mundo inteiro, e eles pararam de construir a cidade.
A cidade recebeu o nome de Babel, pois ali o SENHOR atrapalhou a língua falada por todos os moradores da terra e dali os espalhou pelo mundo inteiro.

Gênesis 11: 1 a 9 (NOVA TRADUÇÃO LINGUAGEM DE HOJE)

Olhar para o texto inspirador me fez refletir em alguns pontos:

- o perigo da unicidade;
- o perigo da ação, da construção objetivando a autopromoção ou a afirmação de poder;
- o perigo do aliciamento e da conseqüente sujeição ao poder.

Entre tantos outros perigos dos homens (com h minúsculo) é preciso cuidar para que o mesmo anseio de poder presente no desejo da unicidade, não seja o pano de fundo da suposta valorização das diferenças. É preciso cuidar para que ao expor o outro como diferente de mim (e a partir de mim) não estejamos expondo suas fragilidades para que o EU se sinta fortalecido. Sim, o PODER esse mal de tanto tempo que constrói torres, navios, manicômios, instituições, classes especiais, carteiras no fundo das salas...... em nome das diferenças, mas que na verdade busca a unicidade da normalidade objetivando (por que não ?) um poder divino de separar, de categorizar.

Para ver o OUTRO como alguém que não sou EU é preciso HABITAR BABEL BABELICAMENTE... isso implica residir e experimentar as diferenças, sendo que na maioria das vezes posso não ser compreendida e não compreender, pois não sou traduzível e portanto não posso traduzir. Não cabe ao EU construir, representar ou governar o OUTRO, cabe a cada um habitar com o outro (como OUTRO) nessa BABEL.

Loide

O ambíguo sentido da diferença em Babel

Babel...

É a afirmação das diferenças em um mundo cada vez mais globalizado;
É a ruína da imagem e semelhança e, por isso,
Nos remete a palavras ambíguas...


Agora as palavras ambíguas, cada uma delas com sua parte de verdade e sua parte
de manipulação, são democracia, comunidade, coesão, diálogo... e outras palavras
relacionadas, como diversidade, tolerância, pluralidade, inclusão,
reconhecimento, respeito.

Em meio aos movimentos de apropriação, Babel ainda desafia, no sujeito da compreensão,
a nossa estrangeiridade...
Assim, entre os Habitantes de Babel,

(...) pensar e habitar Babel babelicamente é opor-se às políticas de
identificação e governo da diferença...


Uma pergunta, então, nos é posta:

Qual é o sentido e o valor da diferença para mostrar a imposição de tudo aquilo
que procede à sua liquidação?

Podemos buscar um sentido no vídeo Dançando em:
http://www.vezdavoz.com.br/videos/