20 de mar. de 2009

Não-lugar


Até mesmo para se discutir a diferença, ou se conceber um espaço como sendo um espaço, é necessário que haja mais de um, em um processo de réplica, tréplica e incontáveis movimentos de ir e vir, no diálogo ou no silêncio das idéias.
“Os espaços vazios são antes de mais nada vazios de significado. Não que sejam sem significados porque são vazios: é porque não têm significado, nem se acredita que possam tê-lo, que são visto como vazios (melhor seria dizer não-vistos). Nesses lugares que resistem ao significado, a questão de negociar diferenças nunca surge. Não há com quem negociá-la”. (p.120)
É preciso atribuir um ‘significado’ para dotar um elemento de uma “identidade”.
Desse modo, pensar o espaço educacional, à semelhança de muitas obras criadas por mãos humanas e consagradas por sua imponência, sua história, ou seu valor simbólico de dominação e superioridade, se faz um lugar onde, muito além das suas fronteiras materiais, está a vivência de sua realidade imaterial, não-concreta, porém, não-abstrata. Lugar de experiências etéreas, efêmeras, eternas, intensas... lugar onde se habita, se constrói, se destrói, se liberta, se limita... lugar onde o conflito interior e exterior estão em constante contato, no ir, vir, devir....


Longe...Tarde... Perto... Cedo.... Território... Paraíso perdido... Aventura... Felicidade... Riqueza... Poder... Estrangeiro... Múltiplo... Único... Igual... Diferente... Antagônico... Impreciso... Complexo... Completo... Inacabado... Tempo... Infinito... Ser...


Palavras soltas no texto que tecem algo além da própria idéia ou teoria... tecem experiências, desejos e diferentes focos sobre um mesmo elemento...

Como estão dispostos o espaço e o tempo na escola



As escolas são erigidas uniformemente, sem considerar a realidade local, a maneira de viver e se relacionar das pessoas que ali estão.
É como um bloco que cai, uma imposição na forma de um prédio, uma cápsula com uma distribuição de tempo e espaço funcionando paralelamente da forma de viver dos que estarão ali.
Após sua instalação, iniciam-se as reformas e modificações, através de manifestações artísticas com desenhos, pichações, cores, códigos, símbolos e dizeres que tomam conta de suas fachadas, paredes e muros, tornando-se grandes painéis e quebrando a frieza de seus traçados, desenhos e cores originais.
Alterações arquitetônicas também acontecem, desfazem-se barreiras, muros e alambrados, dando origem a outros acessos, reconfigurando-se assim, os limites físicos estabelecidos anteriormente. Os espaços agora são outros, formam-se guaritas humanas que controlam entradas e saídas de locais criados para fumar, namorar...
Tudo isso pode nos remeter às categorias de espaço público encontradas no texto "Espaço/Tempo" em "Modernidade Líquida".
Não será parecida a escola, com a praça La Défense, em Paris? Em sua falta de hospitalidade, que num primeiro momento o que se vê inspira respeito e depois desencoraja a permanência? Espaço cujo único destino é ser atravessado e deixado para trás o mais rapidamente possível?
Não será, ainda, parecida a escola, com a segunda categoria apresentada no texto, que nos remete a um lugar que por mais que esteja cheio, encoraja a ação e não a interação? Ou ainda, vista como um templo bem supervisionado, vigiado, uma ilha de ordem? Pelo menos como se espera e se supõe!
Temos ainda uma terceira categoria, a de "não lugar", que se dá através de uma presença meramente física, ou de "ausência", esvaziando ou zerando a subjetividade de seus passantes.
Poderíamos encontrar outras categorias?!
Por isso, bombas, pichações, modificações estruturais do prédio, reformulações nos espaços de cirlulação interna, criação de áreas para práticas específicas ... podem ser atitudes para dar sentido a " um pedaço flutuante do espaço, um lugar sem lugar que existe por si mesmo, que está fechado em si mesmo e ao mesmo tempo se dá ao infinito do mar" como nos aponta Michel Foucaut.