31 de mai. de 2009

O poder da língua ou da fala...


Reflexões sobre o texto lido me faz recordar do livro:
A Língua de Eulália, Uma Novela Sociolinguística
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália, Uma Novela Sociolinguística. São Paulo: Editora Contexto, 2005.

O livro conta a história de três amigas: Vera, Emília e Sílvia. Estudantes universitárias que vão passar as férias em Atibaia na chácara de Irene, tia de Vera. Lá conhecem Eulália, uma empregada doméstica que mora na chácara. Ela fala um português diferente do das meninas e elas acham engraçado os “erros” gramaticais cometidos por Eulália. Então, Irene professora de Língua Portuguesa, não acha nada engraçadas as chacotas das meninas e aceita dar umas “aulas” a elas e mostra que o que a Eulália fala não são “erros”, mas uma variação linguística do português. Um português diferente.Neste livro, Marcos Bagno aborda a língua portuguesa com uma outra visão a fim de exterminar os mitos que assombram o ensino da nossa língua. Uma cultura errada que se criou. Ele mostra de uma maneira clara e científica que não há nada de errado (ou engraçado) na linguagem de pessoas menos favorecidas por uma educação deficiente - por causa do nosso apático governo – ou por que não tiveram oportunidades de estudar e, sim, variações linguísticas. Para isso, ele vai buscar respostas e exemplos na história do português, línguas originárias do latim e outras mais, comparando-as e nos mostrando que fenômenos semelhantes acontecem com todas elas. A língua evoluiu e o que foi “errado” um dia é o “certo” de hoje. Revelando-nos que por trás desses falares há grandes conhecimentos e se tornam preciosas poesias nas mãos de nossos compositores e poetas.
Que nos remete em como pode se dar o processo de ensino-aprendizagem e como o papel do educador é fundamental nesta relação de aprender de forma interessante, como troca de experiência e não de maneira de garantir o poder de alguns. Tambem nos faz pensar que o diferente não é pior e pura e simplesmente diferente...

Insurreição de Saberes




O espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado escrito e reescrito” Paulo Freire


Varela nos alerta que é preciso, portanto ir além desta dicotomia estabelecida entre tradição e renovação, para que deste modo encerrar os filhos das classes desfavorecidas numa espécie de realismo concreto, negando-lhes o acesso à cultura culta que não pode ser confundida com a cultura dominante e provocar assim os efeitos menos desejados: impedir-lhes de escapar a sua condição de sujeitos submetidos.
Penso que a obra de Paulo Freire que preconiza para além de uma alfabetização funcional é um caminho que se mostra através da pergunta: “ Para quê alfabetizar?”, entendo eu ser um processo para toda vida.
Ler o mundo como nos ensinou Freire entendemos que a leitura e a escrita servem não apenas para a aquisição de habilidades ligadas às coisas práticas dando uma com tinuidade, de repetição da ordem social, e não de capacidade de discuti-la, entendê-la, modificá-la ou recriá-la.
Frei Betto em o “Escritor por ele mesmo” escreve o belissimo texto: Paulo Freire A Leitura do Mundo, que gostaria de compartilhar com vocês para pensarmos para além das pedagogias renovadas, mas para uma pedagogia do sujeito.


A leitura do Mundo


“Ivo viu a uva”, ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem que Ivo não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e se perguntou se uva é natureza ou cultura.Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho humano. É Criação, é natureza. Paulo Freire ensinou a Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto. Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza em anos e anos de evolução do Cosmo.Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo Freire. O trabalho humaniza a natureza e, ao realizá-lo o homem e a mulher se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social. Graças ao professor, que iniciou sua pedagogia revolucionária com trabalhadores do Sesi de Pernambuco, Ivo viu também que a uva é colhida por bóia-frias, que ganham pouco, e comercializada por atravessadores, que ganham melhor.Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social.Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e contexto que o autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre texto e contexto que Ivo extrai o pretexto para agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa. Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito histórico.Ivo viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a uva. O que ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a Ivo um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pensa onde os pés pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a visão Ptolomeu, ao observar o sistema solar com os pés na Terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol.Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do fruto festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no Amor na manhã de 2 de maio de 1997. Deixou-nos uma obra inestimável e um testemunho admirável de competência e coerência.Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o título de Doutor Honoris Causa, da Universidade de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que tanto amou, pediu que eu fosse representá-lo. De passagem marcada para Israel, não me foi possível atendê-lo. Contudo, antes de embarcar fui rezar com Nita, sua mulher, e os filhos, em torno de seu semblante tranqüilo: Paulo via Deus.











30 de mai. de 2009

Rio da vida



Vamos mergulhar no rio da vida ou ficar apenas apreciando da margem a fluidez das águas?

A terceira margem do rio


A Terceira Margem do Rio


Guimarães Rosa



Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa. Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

26 de mai. de 2009

Vivia a te buscar
Porque pensando em ti
Corria contra o tempo
Eu descartava os dias
Em que não te vi
Como de um filme
Ação que não valeu
Rodava as horas pra trás
Roubava um pouquinho
E ajeitava o meu caminho
Pra encostar no teu

Subia na montanha
Não como anda um corpo
Mas um sentimento
Eu surpreendia o sol
Antes do sol raiar
Saltava as noites
Sem me refazer
E pela porta de trás
Da casa vazia
Eu ingressaria
E te veria
Confusa por me ver
Chegando assim
Mil dias antes de te conhecer

[“Valsa brasileira” - Edu Lobo e Chico Buarque]


Oi Pessoal,
Convido-os a participarem de minha defesa.
Dia 4/06/09, quinta feira, 14 horas, salão nobre da FE.
Se quiserem conhecer meu trabalho:
http://golem.2it.com.br
usuário: convidado
senha: benvindo

Abraços
Bel Dias

25 de mai. de 2009

A casa é o túmulo dos vivos

Seria possível viver em sociedade da forma como o texto sugere? “Ter uma terra e um mundo de ninguém, sem apropriações e sem limites (...) deixar-se compassar e embalar em um tempo de ida e volta, um tempo elástico que recusa ser medido e contabilizado”. Para Foucault, as regras são inerentes à sociedade. A questão que ele coloca é quem faz as regras (detentores do poder) e para quem elas são feitas (perfil do homem universal). Eu não vejo a possibilidade de um mundo como o autor projeta que não seja um processo anárquico e de grandes riscos, pois ele leva a certo niilismo, em especial quando nos lembra de nossa insignificância no universo. Se esta fosse melhor compreendida, ninguém teria a pretensão de clarificar, ordenar, agrupar, categorizar o Outro ou a si mesmo. Em especial por esta humanidade ser constituída processualmente.

Em relação à educação, acho que a problemática está na forma como ela se constitui enquanto conteudista , classificatória e discriminatória, deixando de se constituir enquanto uma possibilidade de propiciar a autonomia dos alunos, possibilitando que pensem por si de tal forma que possam questionar , criar e recriar as regras que possibilitam a convivência social.


Ao finalizar o texto lembrei-me a frase “a casa é o túmulo dos vivos”, dita pelos tuaregues que vivem no deserto. Ela nos traz um paradoxo entre a cultura oriental e a ocidental de um conceito que temos impregnado socialmente na cultura ocidental. Não existe certo e errado. Existem mundos distintos vivendo num mesmo tempo e qualquer classificação é uma visão limitada da realidade.

Rótulos

O ser humano não vive apenas, ele tem necessidade de dar sentido a sua vida. O presente por si só não basta, é necessário que ele pertença a um “plano” maior. E para dar sentido à vida e aos elementos que a compõem, inclusive àquele que a está vivendo, dá-se nomes, significados, a tudo e a todos. Tudo é hierarquizado, classificado, identificado...rotulado.

Rótulos para si mesmo e para os outros. Rótulos que limitam e delimitam. Rótulos que cegam.

Conseguiremos um dia ser apenas? Precisaremos sempre do outro rotulado e validando nosso próprios rótulos? Como viver sem rótulos?

24 de mai. de 2009

"ser - outro do Outro?"


Ao ler o texto de Fernando Gonzáles Placer, “O outro hoje: uma ausência permanentemente no presente” e começar a refletir sobre ele, sobre o conceito de alteridade e o quanto todos nos interagimos e interdependemos uns dos outros, (re)construindo diariamente nosso eu, muitas vezes questionando diariamente esse eu e também procurando esse intervalo que muitas vezes temos entre eu e mim...me lembrei da exposição Verso e Reverso de Julio Villani.
Coincidentemente ou não, essa semana levamos um grupo de alunos da instituição em que trabalho a essa exposição que acontece no SESC Campinas.
Nesta exposição o artista, que cruza fronteiras geográficas e de idiomas, reúne em seu trabalho técnicas diversas, mas com um ponto em comum: a exploração do outro lado das coisas, como se o verso e o reverso da arte se equivalessem. Ele procura explorar a dualidade, a simetria, as tensões geradas entre as matérias e, ao mesmo tempo, as relações existentes entre as formas e seus sentidos. Explorar o “outro lado” de todas as coisas por meio de colagens, esculturas e objetos, assim como os dois lados de uma moeda ou até mesmo do cérebro.


“Não privilegio uma técnica em prol da outra. Navego na fronteira das coisas. Trago a pintura com colagens e recortes e o desenho com o bordado. Desloco as coisas do lugar”, diz Villani. “O preto e o branco, a noite e o dia, o sim e o não, o bom e o mal, o norte e o sul, a presença do número dois ligado por extremos que dividem a humanidade, como se o artista afirmasse que o verso e o reverso se equivalem, por meio de reflexos, contrapontos, e a união de opostos encontrando-se na gênese de todas as obras. Talvez isso represente uma própria inquietude minha”, comenta o artista.” (http://tribunaimpressa.com.br/Conteudo/O-outro-lado-do-olhar,15854,15862)


Ao visitar a exposição percebi claramente que todos que visitam sua exposição, também são artistas, pois podem se tornar parte de sua obra, podem ter suas próprias criações, sugere a cada um suas próprias interpretações, leituras, visões...fiquei então a pensar...nessa exposição seriamos então o “ser – outro do Outro”??

CONSCIÊNCIA HUMANITÁRIA

Será possível, para nós Humanos viver com o OUTRO, sem o desejo de dominá-lo?
Encontrei uma música, que coincidentemente é de uma banda portuguesa chamada HUMANOS.

A TEIA

Tenho maneira de te convencer
Tenho modo e jeito de te prender
Tenho maneira de te convencer
Tenho modo e jeito de te prender

Vais perder a confiança
Vais perder a segurança
Que tu tens em ti
Olha bem pra mim
Não podes fugir
Não podes fugir
Não vais conseguir
Não vais resistir
Começa a sorrir
Tu estás dentro da minha teia
De onde não podes fugir, não
De onde não podes fugir, não

Nossa “consciência humanitária” tem desfigurado o OUTRO e tentado incessantemente “prende-lo" na teia que criamos a partir daquilo que julgamos ser o melhor para ele (ou para nós?)
Uma vez presos, em nome de nossa “consciência humanitária”, encontramos, indicamos, denominamos o lugar do OUTRO. Atribuimo-nos o poder de organizar tudo a nossa volta a partir do nosso olhar, do que pensamos como mais justo....”em nome da paz, da tolerância, da justiça, da ciência e da integração propagamos nossos exércitos.”

Em nome de nossa “ação humanitária”, cheia de boas intenções, buscamos o Universal e desprezamos a singularidade do OUTRO. Exterminamos a Alteridade do “outro” porque cremos na superioridade do EU. O nosso projeto para o OUTRO é sempre NOSSO

Voltando ao questionamento inicial: conseguiremos viver sem o desejo de possuir o OUTRO, sem prendê-lo em nossa “teia”? O texto nos aponta o caminho – talvez seja “necessário repensar-se e desentender-se de si mesmo...se tenha de distanciar-se de “nossa” Consciência Humanitária. Talvez para querer receber o OUTRO, seja necessário querer trabalhar, semear e cultivar em um lugar comum, uma terra e um mundo de ninguém, sem apropriações e sem limites”.

A Escola, terra de ninguém, hospedeira de TODOS! Um sonho possível? Essa sim uma verdadeira “consciência humanitária”.


“É o homem o que gera sua própria impossibilidade, aquela impossibilidade com a qual daí em diante se vai medir.”
M. Cruz
Este texto nos remete a uma reflexão do EU e minha consciência perante o mundo. Conforme podemos ver no livro ao lado.

Muito provocante este título, certo?!
Uma de suas crônicas ... “Em busca do outro”
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor do ser, o meu atalho, já não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é ‘os outros’. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.

Pensemos um pouco nesta crônica e o que ela nos trás de exemplo de vida...
Estive numa capacitação para educadores recentemente onde o Capacitador Fontayny Kleber disse: “É muito importante estarmos abertos para o EU, respeitar as sensações, as informações do corpo - consciência do EU e entender que cada um tem a sua verdade. Utilizar o NÓS é muito pesado, pode se tornar um fardo, pois só podemos (quando podemos) responder por nossas próprias escolhas, sendo que na melhor das hipóteses 50% de nossas escolhas são conscientes, as demais são inconscientes...”
Então como podemos julgar o outro, tentar “decifrar” o outro se nem mesmo sabemos o que e quem somos?





REFLEXÕES...


(...)"um ocidente comprometido com com "os direitos do homem" e com a humanização do mundo"

FERNANDO GONZÁLEZ PLACER

Nós e o outro!

Fernando González Placer nos leva a refletir sobre questões que caminham junto conosco como se fossem um "apêndice ocidental".Ao ler esse texto denso e reflexivo encontrei-me com um elenco de condições que acompanham o homem do ocidente e que me inquietaram muito, afinal, diante desse mundo tão estimulador da produção e da produtividade das coisas, fica difícil humanizarmonos quanto á figura do outro, esse diferente que pode potencialmente impedir minhas buscas de alguma forma.Ou porque me assusta, ou porque me desestimula, ou porque compete comigo, dentre outras.Se isso está em nós de maneira inata, não sei, mas sei que essa configuração ocidental acaba nos levando a pensar, falar e agir de forma a não aceitar a diferença e o outro, assim, sejamos reflexivos e resistentes, sejamos dieferenrtes, façamos o contrário.

Ser-outro do Outro...


"(...) hoje, no ocidente e, para nós, o Outro só aparece em cena como objeto de ação"
(Fernando González Placer)


A epígrafe acima se coloca também como um grito: como ser-outro do Outro? Placer indica algumas pistas nesta direção, mas comecemos por uma: talvez, "seja necessário querer trabalhar, semear e cultivar em lugar comum, uma terra e um mundo de ninguém, sem apropriações e sem limites"[1].

Indo adiante e retomando Lévinas, o Outro se revela Outro em seu rosto e manifesta ser infinitamente Outro pela sua palavra. Neste sentido, a linguagem se torna o espaço do encontro do Eu com o Outro. Em suas palavras, "a linguagem não é mera experiência, nem um meio de conhecimento de outrem, mas o lugar do Reencontro com o Outro, com o estranho e desconhecido do Outro" [2]. Assim, andar no fio da navalha também é reconhecer os códigos lingüísticos utilizados pelo Outro, é escutar novas línguas.


Entendo que, no campo da linguagem, a diferença foi hierarquicamente construída estabelecendo relações de subalternidade. Como exemplo, podemos indicar a relação entre as línguas oralizadas e sinalizadas. Historicamente, estabeleceu-se a superioridade da língua oralizada (e dos sujeitos oralizados). O reconhecimento das línguas de sinais nos causa (a nós oralizados) extremo desconforto, porque nos insere num campo lingüístico que não dominamos, que desconhecemos. Todavia, parece que o nosso reencontro com os surdos exige este percurso instigante, numa impertinente zona de desconforto – num mundo de ninguém, sem apropriações e sem limites.
A escola está disposta a ser um mundo de ninguém? Os professores estão dispostos a ser professores de ninguém? Estamos todos dispostos a ser-outro do Outro na escola?

[1] LARROSA, Jorge; SKLIAR, Carlos. Habitantes de Babel: políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001, p.89.
[2] LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito – ensaio sobre a exterioridade, 1961, p.8.

O INTERVALO ENTRE O EU E O OUTRO

O "eu" e o "outro", não podemos substituir, possuem caráter único com aquilo que cada um é.
Isso não impede que o "eu" queira ser o "outro" e vice versa, porque ambos são feitos também de preferências, de escolhas, de tomadas de posição.
Não podemos dizer que queremos ser mais o "outro" do que "eu", ou dizermos que queremos reafirmar o nosso "eu" para que não se torne um pouco do "outro", muitas vezes indesejado por nós.
Por outro lado, há em nós alguns extremecimentos, facínios e terror na presença do desconhecido e que, após termos experimentado-o, sentimos a necessidade de entrar naquilo que nos foi apresentado por ele. Tanto o "eu" como o "outro" pode ser esse desconhecido.
O "eu" pode ter o "outro" e o "outro" pode ter o "eu", porém não devem um reter o outro, ou seja, o "eu" pode ser o "outro", e, o "outro" pode ser o "eu", penso que essa passagem deve estar aberta, livre, mas é quando o "eu" tenta reter o "outro" e vice versa, que desaparece o espaço, tão necessário entre eu e mim.
Pensei nas apropriações que faço do outro e das que fazem de mim! E, sobretudo, o que faço com elas!

Escravos do tempo


Um dos pontos que mais me chamou atenção no texto trata-se da relação da Humanidade com o Tempo. É sublime a reflexão proposta pelo autor: o tempo é um símbolo "socialmente instituído" (pág. 85)...Somos reféns de nossa própria criação. O homem criou formas para controlar esse tempo pensando que sua existência e sobrevivência seriam supremas a partir disso...Estações do ano, calendários, ampulhetas, relógios de sol, analógicos, digitais...As formas de controle são inúmeras e repletas de tecnologia para que nunca se perca tempo! E qual tempo? Controlamos e ainda sim dependemos do tempo ao longo de toda a nossa existência, mesmo sabendo que a independência (a morte) existe e pode ser breve. Hoje nós, seres humanos, já podemos clonar nossos animais de estimação, falsamente substituiremos a ausência daquele ser querido, tentando prolongar seu tempo de convívio conosco, tentando afastar um tempo de sofrimento, de viver o luto. Será que nós Humanos vivemos nosso tempo buscando na Ciência meios para controlar aquilo nos é a única certeza, ou seja, a morte?

Cegueira da visão, o outro em nós!

“Mas existe, então, alguma probabilidade de encontrar o outro, alguma possibilidade de oferecermos a esse ser-outro, sem devorá-lo imediatamente, sem reconstruí-lo e petrificá-lo com nossos benditos critérios de humanitários e nossa santíssima vontade libertadora?”

Thompson, em seu livro Quem são os criminosos?, nos diz que a esse respeito, pode aplicar-se a muitos psiquiatras de nossa cultura o que disse tão belamente H.G Wells com relação aos psiquiatras e cirurgiões. Um jovem que se fixou no meio de uma tribo isolada, composta de gente cega de nascença, é examinado pelos doutores da tribo. Então, depois um dos anciãos, que pensava profundamente, teve uma idéia. Ele era o maior doutor entre esse povo, seu pajé, e tinha um espírito filosófico e inventivo; ocorreu-lhe assim a idéia de curar Nunez de suas peculiaridades. Um dia, quando Yacob se achava presente, ele voltou a falar no caso de Nunez.
_ Examinei Bogotá – disse - e para mim o caso é claro. Considero muito provável que ele possa ser curado.
_É o que sempre supus – disse o velho Yacob.
_ Está com o cérebro atacado – disse o doutor cego.
Os anciãos murmuraram aprovativamente.
_Porém, que é que o ataca?
_Ah! – disse o velho Yacob.
_Isto – disse o doutor, respondendo à sua própria pergunta – Essas coisas estranhas que se chamam olhos e que existem para dar à cara expressão suave e agradável, no caso de Bolgotá estão enfermos de tal forma que atacam o cérebro. São geralmente distendidos, têm pestanas, suas pálpebras se movem e, em conseqüência, seu cérebro está em estado constante de irritação e distração.
_E daí? – perguntou o velho Yacob – E daí?
_Creio poder dizer com bastante certeza que, para curá-lo por completo, basta-nos uma simples e fácil operação cirúrgica, a saber: remover esses olhos irritantes.
_E ficará mentalmente sadio?
_Ficará perfeitamente sadio e será um cidadão admirável.
_Agradeçamos aos céus pela ciência!- exclamou o velho Yacob, e foi comunicar a Nunez suas felizes esperanças.

Por que será que a nossa consciência humanitária enxerga os outros com nossos olhos de narciso? Somos criados a imagem e semelhança do nosso imaginário Criador particular, criador do céu e da terra do tempo e espaço desse nosso mundo ocidental. Nos resta o desvelamento, a temida nudez para que possamos ver nos outros para além da multiplicidade, mas a singularidade na obra prima de muitos deuses que é também um só!


23 de mai. de 2009

Uma ausência permanentemente presente


" Quantos sou? quem eu sou? O que é esse intervalo entre eu e mim?"

Viver babelicamente. Essa exterminação da Alteridade por reprodução diferencial do outro ou por produção do outro a partir de nossa identidade pessoal nos coloca na curiosa vertigem de Babel. Mas, diferentemente das pessoas de Babel, na maioria das vezes não sabemos o que devemos e queremos fazer. Graças as leituras programadas para esta disciplina, já não pecamos por excesso de unanimidade. Vivemos, mesmo que babelicamente, a diferença das identidades, sem desejar que o outro seja como nós somos. Perdemos a relação da identidade com a mesmidade  e desejamos que o outro seja a diferença.

22 de mai. de 2009

Caleidoscópios

Buscar o eu no outro, buscar o outro em mim, buscar o outro do outro, na ânsia de perceber o quanto do eu está no outro e o quanto o outro do outro está em mim... e viver buscando, tentando encontrar um nós.
Esse NÓS é semelhante a um caleidoscópio, onde, cada olhar capta um ângulo particular do mesmo prisma. Assim são as pessoas, são as idéias, as concepções... e disso é feita a diversidade. Dessa matéria constituída de tantas outras matérias ora semelhantes, ora divergentes... mas que existem e coexistem.
A inquietação humana diante de sua própria existência produz os questionamentos, que por sua vez, sustentam essa inquietação. E quando, uma pessoa está diante da outra, o que ela vê é a outra, a imagem da outra ou a sua expectativa, a sua imagem desejada?
Para cada um está uma resposta... afinal, o mesmo caleidoscópio que inicia o texto é o que faz o seu final?

18 de mai. de 2009

Subjetividade e intersubjetividade


 

Partindo do pressuposto de que a linguagem, enquanto atividade, é constitutiva da subjetividade o estudo da questão do sujeito, a partir de diferentes abordagens,está correlacionado a diferentes áreas de sua manifestação. Será que a noção de sujeito e suas diferentes formas de construção nos leva a importância da noção de sujeito  em nossa subjetividade e intersubjetividade?

17 de mai. de 2009

Sujeitos

Quem sou eu para o outro? Quem é esse outro para mim? Como desenhar nossas subjetividades? Quanto conheço desse outro? Quanto ele conhece de mim?Quanto eu mesmo conheço de mim?

Infinitas outras questões poderiam ser colocadas nessa seqüência tornando-a cada vez mais complexa e sem respostas precisas. O texto de Carlos Moya nos diz que nosso conhecimento do outro é sempre objetivo. Assim, se pensarmos no inverso como verdadeiro, podemos dizer que ser sujeito é algo difícil de se falar no singular. Parece que somos um sujeito-composto. Composto daquilo que pensamos e construímos em nós a partir do outro, desse outro que também nos compõe e que é composto por nós.

Essa composição do EU a partir do OUTRO se mostra complexa. Mesmo sem admitirmos, nosso próprio eu nos escapa.

Somos conhecidos e conhecemos o outro apenas objetivamente, como um rosto, como um enigma, mas mesmo assim insistimos em enunciá-lo, em narrá-lo. Fazemos isso embasado em um poder que julgamos ter. Nessa narração, na maioria das vezes, nosso poder nos confere o direito também de classificá-lo e categoriza-lo.

O roubo da subjetividade do outro está por todo lado e na escola não poderia ser diferente. O discurso de “formar sujeitos” se confunde com “formar sujeitados”, afinal, temos permitido com nossa pedagogia que nossos alunos tenham o seu ponto de vista sobre a realidade? Temos estimulado e valorizado a sensibilidade de nossos alunos? Temos contribuído para o desenvolvimento de sua autonomia, temos lhes dado o direito de escolha e decisão? Temos nós conseguido ser sujeitos?


“Tudo caminha, tudo flui, nada está imóvel. O universo é como um rio: ninguém se banha duas vezes no mesmo rio.” (Heráclito)


Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?
Por que essa pergunta é tão complexa de ser respondida pelas pessoas, principalmente na modernidade líquida? Já perceberam como demoramos a responder isso nos perfis de blogs, sites de relacionamentos, etc...ou como mudamos constantemente esse perfil?
O texto “El sujeto enunciado”, de Carlos Moya, me fez refletir muito sobre a construção da subjetividade. Construção essa que me parece ser permanente e constante, através das interações que estabelecemos a todo tempo com os outros, com o mundo e conosco novamente. Essa subjetividade carregada de emoções, sentimentos e pensamentos é que faz com que nos relacionemos com o “outro” de uma ou outra maneira; e através dessa relação reconstruímos ou resignificamos novamente muitas de nossas emoções, sentimentos e pensamentos em um constante ciclo.
Pensando na educação de nossos alunos...será que reconhecemos sua subjetividade....se muitos de nós não reconhecem sua própria construção subjetiva???

Onde está a bola?


A figura acima nos desafia a perguntar: onde está a bola? Para além da ilusão de ótica, Carlos Moya pergunta pelo sujeito enunciado, partindo de uma percepção crítica do tratamento dado pela filosofia analítica à subjetividade – uma ilusão cartesiana.
A mentalidade cartesiana, predominante na sociedade moderna, com a sua ênfase na distinção e no particular, nos impede de ver a realidade como um todo, de ver as redes de relações, enfim, a complexidade da vida. Diante de problemas sociais sistêmicos, como a exclusão educacional, esta visão analítica, que vê a realidade por partes, não é suficientemente esclarecedora e não sensibiliza as pessoas para ações solidárias rumo à construção do bem comum.
Na perspectiva de Moya, um sujeito possui seu ponto de vista da realidade e este ponto de vista é constituído por crenças e desejos, caracterizados pela tensão e discrepância potencial entre estes e a realidade das coisas. Assim, a subjetividade compõe-se de intencionalidade (desejo), sensibilidade (sensações e sentimentos) e praticidade (eleição e decisão) – sendo estas eixos constitutivos do sujeito. Portanto, a subjetividade constitui-se no reconhecimento recíproco que passa, evidentemente, pela primeira pessoa. Ou seja, "o sujeito preserva sua autoridade sobre o que percebe, sente ou deseja em virtude dos aspectos do mundo aos quais dirige sua atenção, mas não em virtude de sua relação imediata com objetos e propriedades do fenômeno, interpostas entre ele e o mundo."
A crítica de Moya ao reducionismo epistemológico é bastante pertinente, pois reduzir o conhecimento é reduzir o sujeito, daí a dificuldade do naturalismo redutivo (conducionismo lógico, materialismo, funcionalismo) em lidar com a subjetividade. Acaba diluindo-a na busca de uma aproximação preciosista do objeto.
Resta-nos como educadores, o desafio da pergunta: que sujeito temos enunciado? Nosso entendimento da subjetividade reduz ou emancipa os indivíduos com os quais trabalhamos? Segundo Jung Mo Sung, em Sujeitos e Sociedades Complexas, "a única forma de preservamos a nossa sujeiticidade é não aceitar sermos reduzidos a nenhum papel social". Estaríamos reduzindo nossas crianças ao exercício de determinados papéis sociais?

idiossincrasia



idiossincrasia




Do Gr. idiosygkrasía < ídios, próprio sýkrasis, constituição, temperamentos. f., Disposição do temperamento de um indivíduo para sentir, de um modo especial e privativo dele, a influência de diversos agentes;Reação individual própria a cada pessoa;Maneira pessoal de ver o mundo.



Após a leitura do texto “El sujeto Enunciado” de Carlos Moya, através da minha maneira pessoal de ver o mundo relacionei a leitura com outros dois textos que penso contribuir sobremaneira com as questões levantadas pelo autor em relação a 1º e 3º pessoa.
Oliver Sacks em seu livro Um antropólogo em Marte, relata uma história verídica a respeito de um paciente seu que ele chama “O caso do Pintor Daltônico”, que diz assim:
No início de março de 1986, recebi a seguinte carta:
Sou um artista consideravelmente bem sucedido que acaba de passar dos 65 anos. No dia 2 de janeiro deste ano eu ia dirigindo meu carro quando levei uma trombada de um pequeno caminhão, do lado do passageiro. Durante a consulta no ambulatório de um hospital local, me disseram que eu tinha sofrido uma concussão. Durante o exame de vista, descobriram que eu não conseguia distinguir letras ou cores. As letras pareciam caracteres gregos. Minha visão era tal que tudo me parecia visto de um televisor preto - e-branco. Depois de alguns dias, passei a distinguir as letras e fiquei com visão de águia, consigo ver minhoca se contorcendo a um a quadra de distância. A precisão do foco é inacreditável. Mas estou completamente daltônico. Procurei oftalmologistas que nadam sabem sobre o daltonismo. Procurei neurologistas, inutilmente. Mesmo sob hipnose, continuo sem distinguir as cores. Passei por todo tipo de exame. Todos os que vocês conseguem imaginar. Meu cachorro marrom é cinza-escuro. Suco de tomate é preto. Tv em cores é uma mixórdia...”


Vale também lembrar da história que Benjamin (1987b, pp.219-220) conta, falando de um rei que, apesar de muito poderoso, não se sentia feliz e se tornava cada vez mais melancólico. Mandou um dia chamar seu cozinheiro particular, pedindo-lhe que fizesse uma omelete de amoras tal qual havia saboreado há 50 anos, na sua infância. Nessa época, seu pai guerreava e, tendo perdido a guerra, tivera de fugir. Depois de muito vagar pela floresta famintos e fatigados, o menino-rei e o pai encontraram uma choupana onde uma velha os fez descansar e lhes preparou uma torta de amoras. O cozinheiro – que recebera do rei, como promessa, a mão da filha e o reino, caso soubesse fazer aquela omelete, ou a morte, em caso negativo – escolhera de antemão morrer, já que, embora possuísse os ingredientes e a receita da torta, jamais conseguiria temperá-la com o gosto do perigo da batalha, da vigilância do perseguido, do calor do fogo e da doçura do descanso.
Penso eu duas histórias uma verídica e outra ficção com ingredientes indissiocrassicos da 1º pessoa que qualquer teoria objetiva da 3º pessoa acerca da mente é necessariamente incapaz de descrever adequadamente certos fatos essenciais a cerca da experiência subjetiva

16 de mai. de 2009

EL SUJETO ENUNCIADO

O que é ser sujeito?
Será que ser sujeito é ter seu ponto de vista, suas crenças, desejos e pronto? Ou é necessário uma sensbilidade para percebermos o quanto nossas ações estão intimamente ligadas ao nosso próximo?
Como a ação, reação e reflexão estão intimamente relacionadas à nossa responsabilidade, será que temos consciência disto? (autoconhecimento) Como podemos tranformar esta situação de uma verdade única, de conhecimento pronto e acabado para uma realidade de constante ação, reflexão e de conexão com o entorno?... Somos bombardeados constantemente por imagens fortes de degradação humana e continuamos coniventes com o que existe... como poderemos enquanto educadores trabalharmos de forma a produzir tranformações sociais e educacionais?
Um vídeo para reflexão...
http://www.youtube.com/watch?v=LatdO0cS_W0

O outro

O filme "I'm Not There" representa o cantor Bob Dylan em seis personagens: Cate Blanchett, Richard Gere, Ben Winshaw, Christian Bale, Heath Ledger, Marcus Carl Franklin. É possível reconhecer o cantor em uma dessas fotos?








Este é o outro Bob Dylan...


All I REALLY WANT TO DO

A leitura do texto "El sujeto enunciado" me fez questionar inúmeros aspectos sobre os quais estou refletindo. Em meio à essa reflexão tive a oportunidade de apreciar uma canção de Bob Dylan - All I really want to do. Resolvi então partilhá-la com o grupo a fim de que pensemos sobre a questão do "eu e do outro". Vale a pena dizer que ele a compôs aos 23 anos de idade.
Boa leitura e se puderam a ouçam!
Um abraço,
Eliane



ALL I REALLY WANT TO DO
TUDO O QUE EU QUERO FAZER
BOB DYLAN
(1964)

I aint lookin to compete with you
Eu não desejo competir com você
Beat or cheat or mistreat you,
Vencê-la ou enganá-la ou maltratá-la
Simplify you, classify you,
Simplificá-la, classificá-la
Deny, defy or crucify you.
Negá-la, ignorá-la ou crucificá-la
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer
Is, baby, be friends with you.
Querida, é ser seu amigo
No, and I aint lookin to fight with you
Não, eu não desejo lutar com você
Frighten you or tighten you
Assustá-la ou pressioná-la
Drag you down or drain you down
Arrastá-la ou cansá-la
Chain you down or bring you down.
Acorrentá-la, humilhá-la
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer
Is, baby, be friends with you.
Querida, é ser seu amigo.
I aint lookin to block you up
Eu não desejo prendê-la
Shock or knock or lock you up
Chocá-la, derrubá-la ou trancá-la
Analyze you, categorize you
Analisá-la, categorizá-la
Finalize you or advertise you
Finalizá-la ou adverti-la
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer
Is, baby, be friends with you
Querida, é ser seu amigo
I dont want to straight-face you
Eu não quero enfrentá-la
Race or chase you, track or trace you
Competir, seguir você
Or disgrace you or displace you
Desgraçá-la ou substituí-la
Or define you or confine you
Ou defini-la ou limitá-la
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer
Is, baby, be friends with you
É, querida, ser seu amigo.
I dont want to meet your kin
Eu não quero conhecer seus parentes
Make you spin or do you in
Fazer você girar
Or select you or dissect you
Selecioná-la, dissecá-la
Or inspect you or reject you
Inspecioná-la ou rejeitá-la
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer
Is, baby, be friends with you
Querida, é ser seu amigo
I dont want to fake you out
Eu não quero imitá-la
Take or shake or forsake you out
Agitá-la ou abandoná-la
I aint lookin for you to feel like me
Eu não desejo que você sinta como eu
See like me or be like me
Veja como
eu, ou seja como eu
All I really want to do
Tudo o que eu realmente quero fazer

Is, baby, be friends with you
É, querida, ser seu amigo

15 de mai. de 2009


Quem é este Sujeito Enunciado? É ele um sujeito exposto, que caminha entre aquilo que o compõe e aquilo que lhe falta?
Pois sim, também aquilo que não está nele contribui para fazê-lo ser quem é.
Nos questionamentos sobre a subjetividade, sobre o ser, sobre o eu e o outro, está a apresentação das diferentes correntes teóricas e suas concepções relativas à 1º e 3º pessoa. Pois bem... e entre elas está a 2º pessoa.
Essa pessoa que o auxilia a se reconhecer como tal, nesse diálogo entre o eu e o outro... entre o ser e o estar. A 2º pessoa pode ser aquele outro que está lá, ou aquele outro que se vê lá, pois cada olhar tem seu prisma particular, seu contorno da imagem.
Da Vinci, ao compor sua imagem do Homem Vitruviano, concebia (ou a nós foi dito que assim o é) a imagem do corpo perfeito, das medidas perfeitas, reforçando o que a Estética nos ensina sobre o belo como aquilo que é “simetricamente equilibrado”.
Mas cada um que se depara com essa imagem a concebe de uma forma. Pode-se observá-la como uma obra autêntica de uma mente genial, ou como um ‘homem de quatro braços e quatro pernas’... pode-se fazer ainda uma releitura de seu original, com alguém diante da Lua, dando-lhe outra cor, outro aspecto, mas preservando sua referência original (como nas imagens aqui postadas). Pode-se também pensar que ela expressa a simbiose dessa relação entre 1º, 2º e 3º pessoa daquilo que se é. Pode-se.
Na experiência subjetiva não são esses padrões que determinam, tanto melhor, não há a necessidade do determinismo, do binarismo, ou das classificações. O que há é simples, é essência, é particular e comunitário ao mesmo tempo.
O belo também é uma experiência subjetiva, daí não lhe cabem as regras e medidas que pretendem universalizar a beleza, modelando-a a padrões classificatórios de uma sociedade cosmopolita.
Pensar sobre a escola para todos é conceber que é ali onde as experiências acontecem e são acessíveis a quem as desejar. Esse estado que está além dos limites físicos ou não que são consagrados pelo desenvolver do pensamento social, onde as vidas se entrelaçam, conectam, desconectam-se entre suas existências, na sua liberdade de agir, de pensar, de estar ou não presente.
Além do Cogito cartesiano, da lógica, do materialismo, das teorias está um lugar onde a existência está essencialmente presente... e é este lugar onde habita o Ser.

11 de mai. de 2009

A subjetividade na educação

Nossa subjetividade nos dias atuais tem sido cada vez mais infuenciada pela modernidade e nossa identidade vem se moldando as exigências da sociedade. Nós estamos na corrente contra a alienação e como educadores devemos refletir sobre essa subjetivade na educação. Segue um video para nos ajudar nessa reflexão.

http://www.youtube.com/watch?v=pgwpiZp_9Ss

10 de mai. de 2009

Nós, os seres humanos


"Es tiempo de atender a las diferencias"..."Reconhecer la frgamentación"


A linguagem é uma característica que nos difere de qualquer outro ser vivo. Penso que as diferenças entre nós também...Nesse sentido, o que chamo de diferenças? São particularidades, modos de pensar, agir, viver, sobreviver de cada um. Não penso prioritariamente em diferenças físicas...Penso nas diferenças de nossas subjetividades. Viver em sociedade, não é um viver único geral...É um viver fragmentado...Fragmentado pelas nossas particularidades, por nosso "pensar", por nosso agir. Quando tentamos uniformizar este pensar-agir, ignoramos a essência da subjetividade, esquecemos que somos os seres vivos mais "complexos" já existentes nesse Planeta...

DEL SUJETO A LA SUBJETIVIDAD


"Pensar sin barandilla"

Esta imagem mostra uma ruptura, um corte que é o que o texto propõe ao nos mostrar que não podemos estar presos a verdades únicas, que precisamos aprender a conviver com sujeitos concretos, diferentes dos que idealizamos, que nos leva a sair da situação de meros expectadores para uma situação de autores do nosso próprio destino, envolvidos numa situação de fragilidade, de relação humana que nos oferece a oportunidade de conservar nossas crenças ou inovar e transformar o que somos e o que acreditamos?

TIEMPO DE FRAGILIDAD



“Por supuesto la identidad lograda por médio de La narración ES frágil y de uma estabilidad inestable, pero, como decía Hans Jonas, lo frágil es, precisamente, aquello de lo que, sobre todo, somos responsables”

O apóstolo Paulo parece conhecer bem as fragilidades e o “poder fraqueza” decorrente nesta situação um tanto paradoxal. Em sua segunda carta aos coríntios ele diz: “Porque, quando sou fraco, estão, é que sou forte.”

Viver as diferenças significa viver sem “barandillas”. Mostrar-se fragilizado diante do OUTRO. Ao colocarmos nossos “corrimãos” de apoio em nossa própria força, não podemos nos esvaziar de nós mesmos, de nossos pré-conceitos, de nosso desejo de compreender e classificar o OUTRO.

Com medo de demonstrar nossa fragilidade diante do OUTRO enigmático, nos apoiamos nas descrições prévias de sujeito universal, assim não precisamos encarar o sujeito encarnado, aquele que está bem na nossa frente, que tem nome.

Se não admitirmos nossa fragilidade diante do OUTRO, nossa proximidade não será possível, pois esta acentua as diferenças e elas se tornam assustadoras e ameaçadoras do nosso poder, da nossa força.

Viver em tempo de fragilidade é saber viver com a permanente sensação de falta de controle diante da complexidade do encontro com o OUTRO. Mas viver na própria força é sempre ter a necessidade de reapropriar-se de algo, do OUTRO. Viver na fragilidade é saber viver na angústia de não saber tudo, de não poder tudo.

Viver em tempo de fragilidade é conviver com o “temor diante de riscos que escapam a nosso controle”. Sentimos-nos frágeis, pois parece que perdemos as respostas nas quais geralmente nos apoiávamos, nossas “barandillas”. Temos a sensação “...em pé em meio de uma montanha de escombros dos pilares das verdades mais conhecidas”...

Mas, quando sou fraco, então é que sou forte! Sim, pois reconheço que minha fortaleza não vem de mim mesmo, das minhas certezas. Vem sim do reconhecimento de minha fragilidade diante do OUTRO das situações que nos colocamos com esse OUTRO. Como afirma Fina Burles, “toda ação cai em uma trama já existente de relações humanas” e isso se mostra sempre frágil e incerto. E é no meio dessa trama, dessa fragilidade que construímos nosso viver com as diferenças.

Caminho de transformação

Pois é, cá estamos nós, nesse meio, nesse mundo, descobrindo, nos mobilizando á favor do encontro com a diferença.Isso é fantástico pois faz parte de cada um de nós, indiscutivelmemte assumirmos, observarmos, percebermos as diferenças contidas em cada identidade com a qual nos deparamos ao longo da vida, bem como com a nossa, que nesse percurso vai exercendo sua transitoriedade.Hoje, sincerramente, ao pensar na chamada escola para TODOS, por mais difícil que seja essa reflexão e essa prática não consigo deixar de sentir que isso é plenamente possível, fácil não, porém desestabilizador e por isso mesmo transformador.Obviamente, no meio do percurso poderiamos nos encontrar em crise mas só esse caminhar já valeria a pena.

7 de mai. de 2009

Na descoberta da importância do fluxo


Sinto que quanto mais tentamos nos envolver com o sujeito, sua identidade e sua subjetividade, mais buscamos dar sentido à vida, no nosso caso, sobretudo no que diz respeito à Educação.
Que vida queremos viver? Que Educação?
É uma busca que faz parecer com que a resposta está sempre mais longe, e, por isso, não tem ponto de chegada, o que buscamos não se esgota, exatamente porque está relacionado com o sentido da vida.
Presenciamos uma supervalorização do presente, só que de forma fragmentada, no sentido de que o grande interesse é querer resolver as próprias questões, problemas ou dificuldades, momentaneamente. Assim, controe-se identidades perenes e fragmentadas. Cada um precisa se destacar, cuidando e resolvendo as suas questões.
A "felicidade" está na propaganda de tudo: "Aqui é lugar de gente feliz!". Ser feliz tornou-se uma exigência quotidiana. Até mesmo na aprendizagem, tudo tem de ser divertido, se não for, não presta, parece que o tempo não passa. Falta sentido! Vive-se de fragmentos!
Viver a identidade e a subjetividade é perceber que estamos sempre mais longe do que as nossas tentativas permitem atingir. Não tem ponto de chegada, não se esgota (fazer e padecer). Quando as buscamos percebemos que estão no fluxo e que a fragmentação só pode ajudar se for encarada como algo que não nos deixa chegar numa síntese, num equilíbrio.
"Do sujeito à subjetividade"
Como percorrer esse caminho?
Descobrindo a importância do fluxo!

5 de mai. de 2009

"Pensar si barandilla"

A verdade que defende o perfil único de sujeito universal conforta na medida em que é reafirmada pelos seres que dela compactuam. O inverso ocorre com aqueles que dela se desprendem. O resultado desse desprendimento pode ser o vazio e o desconforto de quem já não possui certezas e decidiu trilhar os caminhos incertos e cambiantes da modernidade líquida.

Esse possível vazio resultante do abandono da âncora (aquilo que segura e enrijece), presente mesmo que sutilmente nos assombros do nosso “museu imaginário das diferenças”, talvez possa ser reconstruído/preenchido na medida em que, mergulhados no fluido, no novo, tomarmos como alavanca (aquilo que impulsiona) princípios e valores como a solidariedade, o acolhimento, a hospitalidade, em ações flexíveis, criativas, responsáveis, disponíveis ao questionamento daquele que pensa sem “barandilla”, não importando se esse questionar tenha a sua originem em um estudante, em um educador ou em um membro qualquer da comunidade.

Que o pensamento pautado em elementos que defendem a escola para todos, permita-nos atuar de maneira a considerar as reais necessidades dos atores desse cenário, por meio de uma prática consciente de que já não é preciso reconhecer, respeitar ou tolerar as diferenças, mas sim, permitir que elas possam emergir e interagir nas nossas relações, cabendo-nos estar atentos para que sejamos capazes de descobrir, desconstruir e colocar em avaliação também as nossas ações e não mais apenas a dos estudantes. Atentar-nos de que a diferença difere, surpreende e de que os sujeitos, todos eles, são enigmáticos.
Vamos aprender a decifrar os sujeitos concretos, encarnados?



3 de mai. de 2009

Del sujeto a la subjetividad

...no hay que exagerar acerca del presente, que si nos resulta tan difícil es porque, entre otras cosas, nos toca vivirlo.
María Zambrano

Neste trecho, podemos refletir nossa prática pedagógica, pois é muito comum nos depararmos ou até mesmo fazermos comentários sobre como está difícil ser educador, que os alunos não são mais como antes... O que nos resta?
Propiciar-nos momento de consciência das dificuldades, ação e reflexão sobre o que fomos, o que somos e o que desejamos ser, enquanto pessoas e educadores, além de ter claro o que temos a oferecer ao outro, se conseguimos aceitar este outro como é. E principalmente se sabemos compreender que é na diferença que podemos crescer.
Acredito ser de suma importância que saibamos que ninguém está pronto e acabado, assim sendo todos são passíveis de mudanças, inclusive nós... Pois na maioria das vezes acreditamos que o outro é quem precisa mudar.
E nós o que fazemos para que a transformação ocorra? Estamos abertos às mudanças, às diferenças ou somos sujeitos que temos nossas crenças, nossos “pré-conceitos” e vivemos uma experiência de unificação e comparação dos seres humanos, apesar de um discurso favorável das diferenças, será que na prática conseguimos fugir das “ciladas” que a sociedade nos proporciona?

Simplismente Narciso!


Ao ler o texto de Fina Birulés me vi fazendo uma releitura do texto de Hall, autores distintos, mas com uma afinidade de idéias muito próximas. Os mesmos consideram a Pós Modernidade como modernidade tardia, discutem os movimentos migratórios e a globalização com a pergunta de quem somos contemporâneos? Como pensar a subjetividade em tempos de globalização em tempos de sociedades pós industriais com um continuo avanço em conhecimento técnico por meio da presença de sistemas abstratos de mecanismos impessoal. Como pensar em subjetividade quando acaso temos perdido também o contato com as raízes da própria modernidade que nos faz cair no plano do
individualismo narcisista? Novamente proponho a releitura do Mito de Narciso !

Zaluzejo

A discussão sobre identidade e diferença me fez pensar sobre o certo, o errado, o mais adequado, o menos adequado... Todos esses posionamentos envoltos por parâmetros, padrões... Certo a partir de que norma? A escolha pelas identidades perpassa essa discussão... Tendemos nós a escolher a identidade mais adequada aos princípios e valores dos grupos com os quais nos identificamos e desejamos fazer parte? A educação pode contribuir para que os sujeitos não desejem incorporar-se à determinados grupos, porque são convencidos de que não são capazes de que o lugar deles é outro na sociedade?
Lembrei-me então de uma canção do grupo “O teatro mágico”.
Partilho com vocês...

“Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz.”

Zaluzejo
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli
Ah eu tenho fé em Deus... né?
Tudo que eu peço ele me ouci... né?
Ai quando eu to com algum pobrema eu digo:
Meu Deus! me ajuda que eu to com esse problema!
Ai eu peço muito a Deus... ai eu fecho meus olhos... né?
Meu Deus me ouci na hora que eu peço pra ele, né?
Eu desejo ir embora um dia pra Recife não vou porque tenho medo de avião, de torro...de torroristo ai eu tenho medo né?
Corra tudo bem... se Deus quiser... se deus quiser..."
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho, graxite, vrido, zaluzejo "eu sou uma pessoa muito divertida"
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho, graxite, vrido, zaluzejo "não sei falar direito"
Pigilógico, tauba, cera lítica, sucritcho, graxite, vrido, zaluzejo "não sei falar"
Tomar banho depois que passar roupa mata
Olhar no espelho depois que almoça entorta a boca
E o rádio diz que vai cair avião do céu
Senhora descasada namorando firme pra poder casar de véu
Quando for fazer compras no Gadefour:
Omovedor ajactu, sucritcho, leite dilatado, leite intregal,
Pra chegar na bioténica, rua de parelepídico
Pra ligar da doroviária, telefone cedular
Quando fizer calor e quiser ir pra praia de Cararatatuba, cuidado com o carejangrejo
Tem que ta esbeldi, não pode comer pitz, pra tirar mal hálito toma água do chuveiro
No salão de noite, tem coisa que não sei
Mulé com mulé é lésba e homi com homi é gay
Mas dizem que quem beija os dois é bixcional... só não pode falar nada, quando é baile de carnaval
Pra não ficar prenha e ficar passando mal, copo d'água e pílula de ontemproccional
Homem gosta de mulher que tem fogo o dia inteiro, cheiro no cangote, creme rinsa no cabelo
Pra segurar namorado morrendo de amor escreve o nome num pepino e guarda no refrigelador, na novela das otcho, Torre de papel,
Menina que não é virge, eu vejo casar de véu
Se você se assustar e tiver chilique,cuidado pra não morrer de palaladi cadique
Tenho medo da geladeira, onde a gente guarda yogute, porque no frio da tomada se cair água pode dá cicrutche
To comprando um apartamento e o negócio ta quase no fim
O que na verdade preocupa é o preço do condostim
O sinico lá do prédio, certa vez outro dia me disse:
Que o mundo vai se acaba no ano 2000 é o que diz o acalipse
Tenho medo de tudo que vejo e aparece na televisão
Os preju do Carajundu fugiram em buraco cavado no chão
Torrorista, assassino e bandido, gente que já trouxe muita dor
O que na verdade preocupa é a fuga do seucrostador
Seucrosta quem não tem dinheiro, quem não tem emprego e não tem condução
Documento eu levo na proxeca porque é perigoso carregar na mão
Mas quando alguém te disser ta errado ou errada
Que não vai S na cebola e não vai S em feliz
Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X
Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz "e eu sou uma pessoa muito divertida...eles não inventavam nada... eu gostava de inventar as coisa não sei falar direito... inventar uma piada, inventar uma palavra, inventa uma brincadeira... não sei falar me da um golinho... me da um golinho..."
E com muito prazer que eu convido agora todos aqueles que estão ouvindo esta canção
Para entoar em uníssono o cântico: Omovedor, Carejangrejo
Vamos aquecer a nossa voz cantando assim:
Iô,iô,iô. Iô,iô,iô,iô, eu digo:
Omovedor, Carejangrejo, Omovedor, carejangrejo... Omovedor!"omovedor... carejangrejo... só isso que eu sei falar!"

Subjetividade de ser...


A leitura sobre a Subjetividade me trouxe a recordação de um pequeno trecho escrito por Clarice Lispector:

"...É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo... Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,, depende de quando e como você me vê passar. Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre". (Clarice Lispector)


Essa busca por uma identidade fixa, quando na realidade estamos aprendendo que a identidade é móvel, que a relação entre o subjetivo e o objetivo é estreita e interdependente, para que um fator se reconheça no outro... tudo isso também está expresso na citação acima... não há conclusões... ou elas existem de fato?

2 de mai. de 2009

“As máquinas só produzem máquinas. Isto é cada vez mais verdadeiro na medida do aperfeiçoamento das tecnologias virtuais. Num nível maquinal, de imersão na maquinaria, não há mais distinção homem-máquina: a máquina se localiza nas dois lados da interface. Talvez não sejamos mais que espaços pertencentes à ela – homem transformado em realidade virtual da máquina, seu operador, o que corresponde à essência da tela. Há um para além do espelho, mas não para além da tela. As dimensões do próprio tempo confundem-se no tempo real. E a característica de todo e qualquer espaço virtual sendo de estar aí, vazio e logo suscetível de ser preenchido com qualquer coisa, resta entrar, em interação com o “vazio”.”

                                                                                         Jacques Lacan

Não é fácil admitir que vivemos na era do vazio, marcada pelo  individualismo que transforma o “indivíduo” em um ser  des-subjetivado, des-historieizado, fragmentado, homem-máquina possuidor de um hiper-corpo, conectado a uma grande rede virtual, não mais sujeito de si mas sujeitado pela máquina/virtual, afastado do simbólico e preso ao mundo de imagens. Será que é assim que temos que viver na pós modernidade?

1 de mai. de 2009

Texto coletivo

A leitura impactante do capítulo Espaço/Tempo de Z. Bauman, em Modernidade Líquida , livro de sua autoria e publicado pela Jorge Zahar Editor, em 2001 serve de cenário para este texto coletivo.

A passagem da Modernidade Sólida para a Modernidade Líquida é da medida do volume e da consistência das nossas idéias e da possibilidade de cada um de se esgueirar por essa viela apertada, sinuosa

Exige que deixemos para trás o que pode nos comprometer nessa travessia, o que nos segura ao passado e perder o medo do futuro. O instante da passagem é o momento do nascimento de um novo tempo e espaço que viveremos do outro lado.Temos de correr riscos e nos despojar do que é seguro(?) e avançar , apesar de desconhecermos o caminho.

Instigamte para quem vive para a educação, na educação e quer carregá-la para além de seus limites espaço-temporais.


O homem constrói e vive a história do tempo. Sua necessidade de compreender e controlar o tempo desde sempre o acompanhou. No Antigo Egito, o estudo do tempo fazia-se necessário à sobrevivência. As estações do ano, por exemplo, foram constituídas como meio do homem se precaver das enchentes – que aniquilavam aldeias inteiras – ou ainda para definir épocas de plantio.

Uma nova concepção temporal surge com a Revolução Industrial, na qual o homem é produtor de ferramentas. Nessa condição o tempo torna-se sinônimo de dinheiro, é o tempo do “trabalho produtivo”. Com o surgimento das máquinas a vapor e dos aviões constitui-se o tempo do hardware. Os assim chamados hardware permitem ao homem “manipular” o tempo e consequentemente “manipular” o espaço. "O movimento acelerado significava maior espaço, e acelerar o movimento era o único meio de ampliar o espaço". A maneira como entendemos e lidamos com o tempo determina a forma como vivemos, nos relacionamos e nos organizamos enquanto sociedade.

Vivemos um tempo onde as pessoas constroem “templos do consumo” constituídos como lugares em que se possa pertencer a algo, sem necessariamente fazê-lo.

Assim, aquele que busca o consumo nesses espaços projetados para tal fim (Shopping Center, por exemplo) está, de certo modo, buscando pertencer a um lugar que seja um ‘não-lugar’. Algo fora da realidade cotidiana, que o remeta à busca de uma identidade, na semelhança com os demais que ali habitam, mas que não lhes permitem uma total interação, uma criação de vínculos, pois o consumo é algo estritamente pessoal.

Nesse mundo competitivo e imediato em que vivemos, a discrepância é clara entre a necessidade do outro, vivida por cada indivíduo e o receio de se construir laços com o próximo, em uma realidade modificada pelo permanente movimento do mundo.

Nos corredores de um shopping center, tem-se a impressão de que todos estão ali motivados pelo mesmo fim, em uma ilusória sensação de vida de comunidade. E também é o espaço onde se encontram os estranhos e as diferenças, que podem ser negadas ou devoradas, mas que não podem incomodar, tirar do lugar seguro.

Não fale com estranhos!

Será que a partir dessa afirmativa nos cabe perguntar: O estranho que vemos no “outro” será o estranho que não conseguimos ver / reconhecer em nós?

Dentro desse tempo / espaço líquido que vivemos, perdemos a capacidade de conviver com a diferença, sem falar na capacidade de se relacionar com o outro, que não se adquire e não se faz sozinha. Essa capacidade é uma arte que requer estudo e exercício. Capacidade esta que nos leva a entender a condição humana de seres plurais que não nascem prontos.

Lembrando Levi Strauss ao falar sobre o Cru (Natureza) e o Cozido (Cultura), as nossas relações humanas estão “cruas”, faltando ainda muito para se chegar ao “cozido”. Tornando líquidas relações sólidas de estranhamento em um mundo volátil.

Nisso também está a imagem mental que cada pessoa tem do seu ‘mundo particular’. Cada qual tem um ‘mapa’ de sua realidade, segundo o seu conhecimento e suas experiências vividas. Daí também se dá a existência de espaços vazios. Não apenas vazios de significado, mas vazios da necessidade da presença do outro, da obrigação com o próximo e da interação.

Em relação ao tempo / espaço, percebe-se a rapidez das informações, a instabilidade constante, os sujeitos em busca de adaptação aos interesses do momento.

É tudo, portanto, muito rápido, muito passageiro. As relações, os objetos... nada precisa durar. E, numa época nunca vista ou vivida, segundo o autor, “não-mapeada”, o que surge e desaparece imprime às pessoas um tom de modernidade, de atualização. Os filhos que são mais parecidos com o tempo em que vivem do que com seus pais.

No mundo software, tal como no mundo hardware, continuam existindo os que mandam e os que obedecem. Os que mandam são os que conseguem manter suas ações livres, sem normas e, portanto, imprevisíveis. São pessoas que se movem e agem com maior rapidez. Os que obedecem são os que não podem se mover tão rápido. São impedidos de deixar seus lugares quando querem.

Na contemporaneidade, tem poder quem detém, por alguns “momentos”, aquilo que é etéreo, “líquido”. Outrora, o poder era dos donos das fazendas, do maior número de escravos, da maior mansão, da maior indústria. A vida de hoje, porém, habita um flat. A roupa de cama usada na noite anterior, no fim do dia, não está mais lá. Foi trocada. O lixo? Desapareceu como mágica dos cestos. Isso é poder. Isso não mais depende de dinheiro.

Freio é preciso, mas não na instantaneidade, pois ela é a nossa realidade e faz parte do nosso tempo de experimentar. Há que se por freio na falta do pensar e do refletir. Que impactos – sociais, ambientais e econômicos – causamos com esse modus operandi? Voltar no tempo é discutível. Viveríamos sem anestesia, vacinas, internet, camisinha? Porém, sem freio, viveremos sem ar, água potável, paz entre os povos, biodiversidade, vida digna?

No contexto educacional, podemos afirmar que a escola está atenta aos movimentos e educa para a modernidade líquida? Continuar na estrutura sólida é uma opção consciente da escola ou a mesma assim permanece porque se encontra numa situação de conforto?

Se na escola estranhos se encontram, estes estabelecem modos de enfrentar a alteridade. Em todos os lugares, esta tarefa de encontrar estranhos requer habilidades da civilidade além dos limites espaço-temporais.

O que seria a civilidade? Bauman nos indica a metáfora das máscaras que permitem a interação em torno de interesses comuns. Assim, no engajamento em vestir uma máscara pública, nos termos da civilidade, objetivamos proteger os outros de serem sobrecarregados com o nosso peso.

Todavia, alguns espaços públicos esvaziam a nossa civilidade, a exemplo das praças modernas (lugares de passagem) e dos espaços de consumo (lugares de sedução).

Cabe a nós perguntar: quais espaços de civilidade nos restam ? A escola é um espaço de civilidade?