21 de mar. de 2009

Companheiros da adversidade

A escola em mais uma tentativa de se legimitar como uma instituição que faz parte da realidade dos sujeitos, conclama a participação da comunidade em decisões que interferem na dinâmica do dia-a-dia dessa organização. Mais do que nunca encontramos artigos, textos, teses, etc. que destacam a importância da COMUNIDADE na escola. O conselho de escolha, as comissões de avaliação instituicionais, as mostras culturais são alguns exemplos de ações que a escola propõe para falar à comunidade "Olhe só, você está aqui dentro ! Pode entrar, seja bem-vindo !" Será ? Será que a escola é uma boa hospitaleira ? Será que a escola abre mão de suas verdades e acolhe o outro como ele o é ? Acredito que não...
Quando os estudantes adentram os portões da escola, automaticamente e implicitamente (ou explicitamente) lhe é imposto para que deixe a sua identidade do lado de fora, pois ali não há espaço e nem tempo para lidar com esse "incômodo". O que a escola não conta é que algumas vezes (com muito mais frequência hoje, não é a toa que a violência na escola atinge níveis jamais vistos) esse outro insiste em adentrar seus portões e que para anunciar a sua chegada, se utiliza de barulho e destroços. E o que a escola faz? Este outro não pode pertubar a ordem, não pode provocar e nem pertubar, não pode "acordar" verdades que não são aquelas que a escola impõe...A escola então convoca a comunidade para que juntas, combatam a invasão, o peregrino não desejado. A escola pontua suas "verdades", aponta o perigo que o outro representa aos outros, apresenta seus rótulos e estereótipos. Choros, gritos, reclamações, indignações e constatações...E a comunidade ? O que pensa ? Afinal, ela está ali, dentro dos portões, hospedada por uma escola que sabe que ela "existe"...Enfim, a comunidade se cala...Os rostos da comunidade não expressam indignação ou pena quando um ou outro funcionário ou professor chora ou reclama...Mas quando uma mãe que vê seu filho acusado e indesejado pela escola chora esses mesmos rostos mudam...Compaixão, pena ? Compreensão ? Acredito que não...Essa mãe é também a comunidade...Conhece as dificuldades de viver em um bairro como aquele, consolou outras mães que perderam seus filhos para a violência, ajuda aquela vizinha que não tem o que comer, pois está sem emprego, cuida do menino da esquina que fica sozinho o dia inteiro, jogado na rua, esperando a volta tardia de seus pais já quase no final da noite...Enfim, essa mãe é mais uma companheira da adversidade. Aquela mãe e seu filho não são desafetos para aquela comunidade, são parceiros, companheiros, expostos a uma mesma violência ou adversidade, ou seja, da exclusão da sociedade. "Só quando enxergam o outro como vítima do mesmo infortúnio conseguem desfazer sua inimizade" (Bonder, pág. 106).

Das estratégias para enfrentar a alteridade dos outros à bomba na escola


Se o medo do outro é uma fobia humana antiga - "a crença na conspiração dos outros contra nós", em tempos modernos, nas palavras de Levi-Strauss, as estratégias para enfrentar a alteridade do outro ganham um certo refinamento. Desde a fantasiosa vontade humana de construir comunidades seguras (como os condomínios cercados) até a construção de mapas mentais que garantam os espaços vazios (o feio que não desejamos ver).

Indo adiante, se não conseguimos, pela civilidade, nos engajar no bem comum, construímos lugares isentos de hospitalidade – lugares fantásticos para serem admirados. Mas inacessíveis, são apenas lugares de passagem – tal qual a praça La Defence em Paris. Para que bancos? Para que árvores? Para que encontros? Trata-se da estratégia antropoêmica que visa o exílio ou a aniquilação dos outros – dá pra fugir com pressa, não precisamos ver.

Por outro lado, podemos falar dos espaços de consumo – lugares onde, deslumbrados pelos objetos de desejo, somos todos seduzidos pelas mesmas atrações. Parecemos iguais, cremos que estamos todos dentro. Boa pergunta, serão os shoppings (templos do consumo) parte da nossa estratégia antropofágica refinada para a aniquilação da alteridade? O certo é que, se não a aniquilamos, certamente, a suspendemos por alguns momentos.

Resta-nos a pergunta: por que será que se deseja jogar uma bomba na escola?

Tire seus sapatos

Que modelo de comunidade estamos criando em nossas escolas? Uma comunidade que encoraja a ação e não a integração? A escola tornou-se um não-lugar, onde partilhamos um lugar público, porém, não-civil, onde toleramos os estranhos em presença meramente física, um espaço vazio. Vazio de significados onde as diferenças conseguem torna-se invisíveis. O caso da bomba deixa isso muito claro.
Projetos isolados sobrecarregam os professores,mais será que um espaço público não-civil consegue tratar essa ''patologia social'' em que estamos inseridos? Nilton Bonder consegue explicar essa patologia de maneira bem clara:

...a diversidade que não se reconhece como parte de algo maior ficará encerrada onde, na verdade, não há qualquer porta ou parede. Assim o individuo será um prisioneiro de sua visão de mundo e fará de sua pele uma couraça que enclausura. Sentenciado ao isolamento sob a ilusão que está protegido.

O que fazer para nos libertar dessa clausura? O próprio Nilton Bonder nos responde: '' Tire seus sapatos dos pés..."

Refletir...

A sociedade de hoje, vive em tempos
de incerteza,
do medo de não saber,
da insegurança,
do imprevisível
e principalmente, de não ter o domínio da situação...
e que estas dúvidas, provocam o constante repensar ,
o refletir,
o replanejar,
o criar
e, por fim
o transformar.

Em que tempos e espaços?

“É difícil conceber uma cultura indiferente à eternidade e que evita a durabilidade.Também é difícil conceber a moralidade indiferente às consequëncias das ações humanas e que evita a responsabilidade pelos efeitos que essas ações podem ter sobre outros.O advento da instantaneidade conduz a cultura e a ética humanas a um território não – mapeado e inexplorado, onde a maioria dos hábitos aprendidos para lidar com os afazeres da vida perdeu sua utilidade e sentido”
(Zygmunt Bauman)


Ser Educador hoje é resgatar o passado e planejar o futuro?
Como é atuar no presente?
Ser Educador é um constante repensar, refletir, replanejar, criar e por fim, transformar e possibilitar para o novo.