7 de mar. de 2009

Babel, um espelho?

Penso que a reflexão sobre a diversidade está intimamente relacionada com um incômodo humano, um desconforto social. E isso é maravilhoso!!! Maravilhoso porque nos tira do lugar que estamos, no conforto de nossa existência para observar ao outro e nos observar a partir da existência do próximo.
Assim o afirmo, por crer que ao pensar sobre a diversidade, a diferença, a alteridade, a outridade, me percebo como um ser de relações com o mundo e para o mundo.
Me reconheço como pessoa a partir do meu olhar na direção do outro. Também, reconheço a minha diferença nesse processo, afinal, o modelo do outro está para as minhas projeções como o sou para ele. O que busco de perfeito no meu próximo, primeiro foi concebido no meu interior... e o que busco de imperfeito também.
Que parâmetros são esses, com tal presunção em ‘classificar’ normalidade e anormalidade? Que paradigma construído historicamente em elementos ambíguos, duais, maniqueístas é capaz de ‘definir’ os que ‘são’ dos que ‘não são’?
Definir é uma pretensão social que caminha com passos distantes da relatividade das possibilidades classificatórias. Como pode um grupo classificar aquilo que é belo, bom, normal em detrimento do conhecimento dos demais?
E aí está a inquietação babélica do texto. Se pensamos em Inclusão é porque primeiramente partimos para a Exclusão, a deixamos tomar forma e espaço em nosso meio, em nosso cotidiano e até mesmo em nosso ser, quando negamos nossas predileções, em nossos gostos ou anseios, em busca da participação em algo maior, em um grupo, em uma ‘sociedade’.
Esse texto, em sua riqueza de palavras, nos convida a pensar sobre essa ‘Babel’ sobre a qual refletimos, sobre a necessidade de administrar a Diversidade e administrar as diferenças. Ele nos permite nos conceber como históricamente babélicos, não pela herança religiosa que nos foi legada, mas pela condição histórica de nossos antepassados, daqueles que antes de nós por essa Terra estiveram e construíram as bases daquilo que nos identifica hoje e as bases daquilo que desejamos mudar.
Quem sou eu? Quem é o outro? Não somos todos iguais ou todos diferentes. Somos seres semelhantes constituídos em particularidades.
Somos únicos, mas podemos ser diluídos pelos demais. Somos corpo, somos alma, somos pensamento.
E somos a diferença em potência, pois a todo instante estamos sujeitos a nos fazer ‘diferentes’, a sair da ‘normalidade’ (se é que ainda se crê estar nela).
A Estética nos propõe que ‘belo’ é tudo aquilo que está ‘simetricamente equilibrado’... mas qual parâmetro é capaz de suprir a necessidade individual de se estabelecer a diferença?
Quantos questionamentos ainda nos cabem nesse processo? Que beleza é a reflexão sobre a própria existência!
Assim, essas palavras finais podem contribuir ainda que minimamente para traduzir a inquietação da mente, do coração... da própria alma:

"O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa!" (Eduardo Galeano)

Babilônios? Será que somos?

Pressupõe-se, que ser diferente é enxergar as pessoas com suas possibilidades, dificuldades e virtudes próprias, enfim respeitando a individualidade. O deficiente, seja patológico ou social, não é um ser diferente das demais pessoas.
Hoje em dia, o pensamento Babilônico não consiste em reinventar o paraíso e sim adequar a forma de vida. Na verdade não se procura uma perfeição social, mas uma administração da diversidade cultural e reorganização da unidade social.
Não há necessidade de transformações para estabelecer uma convivência harmoniosa entre estas partes que pode ser preservada com a igualdade e a singularidade de cada um, construindo uma unidade comum.
Rogério Sardelli Zofanetti

Babilônios somos...babilônia sou!

Ao iniciar minha reflexão me veio a mente a seguinte poesia declamada pela trupe do Teatro Mágico....
“Amadurecência
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli


A poesia prevalece!!!
O primeiro senso é a fuga.
Bom...
Na verdade é o medo.
Daí então a fuga.
Evoca-se na sombra uma inquietude
uma alteridade disfarçada...
Inquilina de todos nossos riscos...
A juventude plena e sem planos... se esvai
O parto ocorre. Parto-me.
Aborto certas convicções.
Abordo demônios e manias
Flagelo-me
Exponho cicatrizes
E acordo os meus, com muito mais cuidado.
Muito mais atenção!
E a tensão que parecia não passar,
“O ser vil que passou pra servir...
Pra discernir...”
Pra pontuar o tom.
Movimento, som
Toda terra que devo doar!
Todo voto que devo parir
Não dever ao devir
Não deixar escoar a dor!
Nunca deixar de ouvir...

com outros olhos!”


“Segundo Laing (1986: p.78), “não podemos fazer o relato fiel de "uma pessoa" sem falar do seu relacionamento com os outros.”A identidade é definida pela relação do indivíduo na relação com outros indivíduos, isto é, cada indivíduo se completa e se efetiva no relacionamento com os que estão à sua volta, em seu convívio. É na relação entre o EU e o OUTRO que se constrói a identidade do EU.” (Antonio Ozaia da Silva em http://www.urutagua.uem.br//ru18_mtrag.htm)
....mas.... quem sou eu?? E quem é o outro?
Após a aula, voltei para casa pensando nessas duas perguntas....ao ler o texto, reler e refletir, refletir...tal questão me inquietou ainda mais. Por que idealizar no outro a minha imagem? Se não sei nem mesmo qual é essa imagem? Quem somos nós?

Nunca me imaginei trabalhando com “inclusão” e de repente estava eu lá trabalhando com algo que não sabia sequer como deveria lidar, confesso que no início tive medo...receio do novo, do diferente, mas de repente me vi completamente envolvida e confesso até “apaixonada”. Nessa minha reflexão fui buscar um relatório que fiz no início dessa prática onde escrevi: “uma escola que trabalhe a criança de forma integral, que deseje a formação de sujeitos autônomos, que respeitem os outros, deve trabalhar também com a diferença para que esta seja aceita como "normal". Mas confesso que tenho muitas dúvidas quanto ao como ajudar nessa inclusão, embora acredite que não existe um “como”, pois se para educação integral da criança não existem receitas, como haveria de existir para inclusão?”...e continuo achando que não existe um “como” e sim o dia a dia, o respeito as suas diferenças, assim como o respeito deles as minhas diferenças...afinal somos todos diferentes não somos? E quem somos nós?

Quem sou ainda não sei...estou em permanente construção pessoal, profissional, social, cultural....mas penso que devemos criar espaços que permitam cada um ser como é, cada um aprender, apreender e reaprender a sua maneira, criar e recriar, enfim SER quem realmente é, ser uma pessoa livre e consciente, afinal Paulo Freire já dizia "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo". Durante a leitura do texto muitas partes me chamaram a atenção, muitas mexeram comigo, muitas me deixaram dúvidas, perguntas,...me tiraram do eixo... confesso, mas uma em especial me passou tranqüilidade... “Pensar a transmissão educativa não como uma prática que garanta a conservação do passado ou da fabricação do futuro, mas como um acontecimento que produz o intervalo, a diferença, a descontinuidade, a abertura do porvir”. (p.21)...enfim babilônios somos...babilônia descobri que sou!

Com base em "Habitantes de Babel"

As discussões elaboradas e debatidas em sala de aula(03/03/2009) aliadas á leitura sugerida (Habitantes de Babel),basicamante mobilizam e muito nossos "sentidos".Pensa-se que nesse universo de condições, situações diversas e diversificadoras há uma espécie de angústia quanto a sentirmos nesse mesmo universo, e isso é árduo pois mais do que saber, é o sentir.Assim, com base nas discussões de sala e na leitura, depreende-se que a verdade é que a diferença é realmente imprevisível e desconhecida,é o que os autores e organizadores da obra nos colocam e nesse sentido, como educadores, sentimos que ao invés de trabalharmos para a modelagem de sujeitos que "sigam"uma sociedade, temos de no minímo pensar em aceitar esses sujeitos com os quais lidamos em sua subjetividade,em seu direito de ser,de ser o que são.No decorrer da leitura depara-se com o termo pluralidade do significado,termo esse que, de maneira simples,nos leva a pensar a questão da base daquilo o qual quase nunca pensamos,o fato de que nossa existência é e pode ser ampla.Com certeza isso fomenta inúmeras inquietudes,e não á toa os autores pouco á pouco apresentam á seus leitores oportunidades de pensarmos o diferente.Isso é muito rico,é belo e como os próprios exemplificam com Jean Luck Nancy, "pensemos com liberdade,livremo-nos das manipulações.Agora já um pouco mais imersos nesse mundo,somos convidados a refletir sobre nossas próprias inseguranças,aquilo que há de mais intimo e está em todos nós,assumamos, a insegurança, criadora do medo de abandonarmos a nós próprios.
Interessantíssimo pensarmos a possibilidade de flexibilidade de grupos humanos,culturais, os quais, e algumas vezes preconceituosamente pensamos como sendo padronizados e previsíveis,não.Há nesses grupos o que se chama de "estar sendo",e isso é amplo, livre também.
Um outro conceito sugerido diante dos escritos dessa obra é também o de compreensão enquanto mediação e isso é fabuloso do ponto de vista da relaçao humana,inclusive a que temos conosco mesmos.No mais,chama-nos muito a atenção o fato da complexidade da lígua e da linguagem, essas dua inseparáveis, tão significativas, tão ricas, tão libertadoras,a chave de nossa subjetividade.

Lenda de Narciso

“Dejar que el otro sea como yo soy, dejar que el otro sea diferente de mi como yo soy diferente(del otro)...” De repente esta frase me remeteu a figura de Narciso personagem da Mitologia Grega na sua incansável busca por sua beleza e “perfeição”, mas me chama a atenção é a posição do lago quando questionado sobre a beleza de narciso. Penso eu, que a resposta do lago pode suscitar em nós um diálogo entre os textos de Pardo e Sckiar quando nos mostra que a diferença cintila e que buscamos no outro aquilo que está em nós.
Para ilustrar este questionamento transcrevo a Lenda de Narciso para que juntos possamos pensar se o mesmo não pode ser um representante a altura da identidade e da diferença ou de nós mesmos humanos etnocêntricos? “E talvez não seja exagerado dizer que Babel expressa também a ruína de todos os arrogantes projetos modernos e ilustrados, com os quais o homem ocidental quis construir um mundo ordenado à sua imagem e semelhança, à medida se seu saber, de seu poder e de sua vontade, por meio de sua expansão racionalizadora, civilizadora e colonizadora”


“Na Mitologia Grega, Narciso (do Grego Νάρκισσος), era um herói do território de Téspias na Beócia, famoso pela sua beleza e orgulho. Era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia do seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
A Lenda de Narciso
Narciso era um belo rapaz que todos os dias ia contemplar sua beleza num lago.
Era tão fascinado por si mesmo que certo dia caiu dentro do lago e morreu afogado.
No lugar onde caiu, nasceu uma flor, que chamaram de narciso.Quando Narciso morreu, vieram as Oreiades - deusas do bosque -
e viram o lago transformado, de um lago de água doce,
num cântaro de lágrimas salgadas.- Por que você chora? - perguntaram as Oreiades.- Choro por Narciso - respondeu o lago.- Ah, não nos espanta que você chore por Narciso - continuaram elas.Afinal de contas, apesar de todas nós sempre corrermos atrás dele pelo bosque,
você era o único que tinha a oportunidade de contemplar de perto sua beleza.- Mas Narciso era belo? perguntou o lago.- Quem mais do que você poderia saber disso?
- responderam surpresas as Oreiades.
- Afinal de contas, era em suas margens que ele se debruçava todos os dias.O lago ficou algum tempo quieto e por fim disse:- Eu choro por Narciso, mas jamais havia percebido que Narciso era belo."Choro por Narciso porque, todas as vezes que ele se deitava sobre minhas próprias margens eu podia ver, no fundo dos seus olhos minha própria beleza refletida”.

E nós o que vemos refletido nos outros, portadores da diferença, a não ser a imagem idealizada de nós mesmos? A diferença não é uma afronta para a nossa imagem?