31 de mar. de 2009

O caso do tiro

É bomba, é tiro... Faltei à aula de ontem por excesso de trabalho. Estou concluindo neste exato momento uma reportagem que escrevo para a revista Pátio sobre diversidade cultural no Ensino Médio. Depois partilharei com vocês o texto, pois tem tudo a ver com as nossas discussões.

Mas estou escrevendo, rapidamente, para partilhar um acontecimento de hoje. Moro com uma amiga. Por volta das 19h, ela recebia em casa uma amiga. Na sala, as duas batiam papo enquanto esperavam o marido da visitante entrar. Ele estava na frente da casa vizinha quando, de repente, foi abordado por dois assaltantes. Um estava armado. Os dois queriam, de qualquer forma, que ele mandasse as duas abrirem a porta. Queriam entrar na minha casa. Ele gritava "não tem ninguém lá dentro, veja!" - e tocava a campanhia, rezando para que elas não aparecessem.

Três tiros foram disparados. O alvo, nosso amigo, atirou-se ao chão. Os bandidos fugiram. Ninguém se feriu. Esse episódio me fez, na hora, lembrar de um trecho daquele texto que escrevi para as aulas de mestrado do ano passado (quatro posts abaixo). Ao saber do fato, não entrei em pânico. Eu estava voltando do trabalho e, antes de ir ara casa, passei no posto policial e pedi orientação. Como já imaginava, os policiais me disseram que eu deveria fazer um boletim de ocorrência. "Trabalhamos com estatísticas. Se as pessoas não se manifestam só porque ninguém se feriu, na teoria o bairro está tranqüilo".

No meu texto, eu afirmei - e continuo afirmando: minha resposta é não. Não vou deixar de sair de casa, não vou entrar em paranóia, não vou deixar de viver e de ocupar os espaços públicos. Pessoas como essas, que surgiram e sumiram do nada por aqui, são construções sociais. O outro - o do tiro, o da bomba... - pode nos ferir, sim, eventualmente. Mas quem disse que não sente medo? Quem disse que não sente NADA?

Quando alguém não pensa duas vezes antes de tirar a vida do outro, para mim, é porque esta pessoa, por dentro, já morreu. Pela descrição, eram jovens. Quem os matou em vida? Claro que a minha serenidade é devido ao fato de que ninguém que eu amo se feriu. E que bom! Não gostaria de passar por isso, porque, provavelmente, o ódio falaria mais alto. Mas, se tive a oportunidade de passar por essa experiência dessa forma, que todos nós aproveitemos para nos perguntar, com essa serenidade, quem matou esses jovens em vida.

Um abraço a todos.

Meire.