12 de jun. de 2009

Experiência de Si, ovo, lagarta, crisálida e borboleta


“Me diga uma coisa: em que exato momento um indivíduo deixa de ser o que pensa que é?” (Trelkovsky, protagonista).


Estudar a constituição do sujeito como objeto para si mesmo. O sujeito é induzido a observar-se a si mesmo, analisar-se, decifrar-se, reconhecer-se como um domínio de saber possível. Memória e objeto. Subjetividade e história no desejo de compreender o tecer da própria vida.
No dizer de Larossa pensar de outro modo, ensaiar novas metáforas.
E por falar em metáfora penso que o processo ovo, lagarta, crisálida e borboleta... Pode designar o que para nós significa ser humano: ser uma pessoa, um sujeito ou um eu. Momento de relação reflexão da pessoa consigo mesma, o poder de ter certa consciência de si e o poder de fazer certas coisas consigo mesma, definisse nada mais nada menos o que ser do humano.
A lagarta morre, vira crisálida, a crisálida arrebenta pelas costas e finalmente, sai a borboleta, com suas asas todas úmidas e embrulhadinhas!
Quem está trabalhando ali dentro? A crisálida está numa tremenda atividade dinâmica, não numa atividade ruidosa por fora que é do ego. A crisálida é o símbolo do Eu sem o ego que se pergunta: Que sou eu? O que somos ou, melhor ainda, o sentido de quem somos depende das histórias que contamos e das que contamos a nós mesmos dentro do casulo. E a experiência de si está constituída, em grande parte a partir das narrações.
Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar