15 de jun. de 2009

O professor e a culpa


Quem é o sujeito professor? Quando leio textos e críticas a esse sujeito não me parece que seja um sujeito...Parece-me que é algo, uma criatura, programável e geralmente não bem programada, pois atualmente suas ações parecem que fazem parte de um repertório falho. Porém essa criatura que "não vem conseguindo dar conta" de sua função, que passa por um sério processo de desvalorização e despropriação do ser, também tem "identidade moral'...Também tem uma "experiência de si mesmo".

Como ser professor nos gera culpa!!! Um dos sentimentos mais presentes e atribuídos a esse sujeito é a culpa. Se o aluno falta, não aprende, se índices satisfatórios não são alcançados...Culpa-se...Esse sujeito professor fica entorpecido por este "poder pastoral", sim, aquele que se culpa e aquele que o culpa "sabem" o que se passa pela cabeça do outro, controlam, fazem com que segredos mais íntimos sejam revelados (pág. 53)...Existe toda uma atividade de convencimento de aquilo que está errado se deve a um sujeito e que esse sujeito sabe disso e deve redimir-se...

Prefiro pensar que viveremos uma época na qual essa culpa, essa redenção será abolida da consciência de todo educador. Prefiro pensar que como sujeitos com experiência de nós mesmos possamos ter consciência pessoal (pág. 50), modificando as ideias sobre nós mesmos e sobre os nossos alunos, sem nos culpar ou culpar o outro em busca de uma "educação para a salvação", mas sim para uma "educação para reflexão".

Ladrões de subjetividade

O texto de Jorge Larrosa me fez pensar na Educação e em cada um de nós educadores como “ladrões de subjetividade(s).”
Ao entendermos por subjetividade a tomado do sujeito a si próprio como objeto de reflexão, como quem faz experiência de si mesmo, nos vem a mente o quanto impedimos, ou pelo menos não incentivamos que tal atitude esteja presente na nossa prática pedagógica.
O discurso de que nossa prática se resume em uma ação mediadora entre os conteúdos e os alunos é muito forte. Acreditamos ter deixado o lugar de informantes e nos colocamos “no meio”. Isso nos traz certo ar de “humildade”, mas se olharmos com atenção, apenas nos deslocamos de um lugar de poder para outro. Continuamos assumindo não só um lugar para nós mesmos, mas também colocamos o OUTRO em um lugar também designado por nós – um lugar daquele que espera pela nossa mediação, tradução, simplificação.....daquilo que julgamos que ele deve saber ou conhecer, e o que é ainda pior – quem este OUTRO deve ser.
Na verdade, continuamos roubando o direito de nossos alunos em manterem uma reflexão consigo mesmos. Foucault nos diz que “fabricamos” os sujeitos dentro de certos aparatos, e podemos inferir que o local mais hábil para isso tem sido as escolas. Nela criamos nossos critérios, rotulamos e separamos os bons dos ruins, os normais dos deficientes. Criamos o “sujeito nomeado”...nomeado pelo nosso poder de defini-lo a partir do nosso EU.
Como fugir do que está posto? Talvez seja preciso que nós mesmos como educadores, aprendamos a exercitar nossa “experiência de si”. Aprendamos a examinar nossas ações pedagógicas e discernir o que realmente promoverá uma prática que ajude, ou que pelo menos não impeça nossos alunos de verem–se a si mesmos não como sujeitados, mas como sujeitos.
Certamente isso não será uma tarefa fácil, haja vista que nós mesmos fomos “roubados” de nossa subjetividade e temos exercido nossa prática sem reflexão. Precisamos urgentemente transformar o nosso EU para que nossa prática pedagógica também seja transformada.

Paciência


Aqui...

“Aqui os sujeitos não são posicionados como objetos silenciosos, mas como sujeitos falantes; não como objetos examinados, mas como sujeitos confessantes; não em relação a uma verdade sobre si mesmos que lhes é imposta de fora, mas em relação a uma verdade sobre si mesmo que eles mesmos devem contribuir ativamente para produzir.”
Larossa, 2008
Para ensinar é preciso desaprender o que temos aprendido?
Como ensinar?
O que ensinar?
Para que ensinar?
Os estudantes, de fato, precisam dos nossos ensinamentos, das nossas explicações, ou de tempo e oportunidades para que vivam intensamente a experiência de si?
Quanto tempo passamos na escola tendo nossas oportunidades de experimentar a nós mesmos, violentadas pela pressa, pelo desejo de ensinar, pela certeza de que os conteúdos trabalhados são capazes de nos salvar de nossa própria ignorância...