7 de jun. de 2009

Saberes, poderes, sujeição

O texto de Julia Varela nos faz caminhar pela história da sujeição do sujeito. Fica claro que esta sujeição está diretamente relacionada com os saberes e poderes presentes na Educação ao longo do tempo. Diferentes foram os saberes instituídos. Diversos foram os detentores do poder. Contudo, sempre estiveram presente, nos diversos momentos da “pedagogização” os sujeitados.
A idéia de selecionar, controlar o saber e dosá-lo segundo algum critério vem acompanhando a história e testificando o poder de uns sobre outros.
Em toda a história os sujeitos-sujeitados foram vistos como mero receptores de saberes. Pontos importantes para a Educação como a cooperação e a vinculação do saber escolar com a vida foram se perdendo e ao mesmo tempo o desejo de controle do sujeito aumentando, o que não poderia ser diferente, pois sem a existência dos dois primeiros a única forma de manter os “sujeitos dóceis” seria a disciplina e a punição.
O poder-saber instituído causa a categorização, deixa fora o inominável, escolhe e valoriza alguns saberes e sobre tudo, escolhe alguns “sujeitos face a outros”.
A história é memória. Não para ser contemplada ou esquecida, mas para ser criticada e transformada. Os atores desta história já não existem mais, mas seus discípulos ainda persistem na idéia de sujeição do sujeito. Classificar e categorizar não “saiu de moda”. É certo que se revestiu de novos trajes e hoje talvez se camufle atrás da diversidade, das identidades fixas...sujeitos dóceis, sujeitáveis!A história continua sendo escrita. Nós a estamos escrevendo. Como tem sido nossa participação? Continuamos com nossos saberes e poderes contribuindo para a sujeição do sujeito ou estamos construindo uma escola para TODOS onde saberes e poderes são compartilhados

A sociedade e a "forma" dos sujeitos


O Estatuto do Saber Pedagógico (J. Varela)despertou em mim uma reflexão a qual considero como essencial para entender um pouco sobre como somos e o porquê somos. Varela nos aponta para a ligação estrutural e impossível de ser rompida: a classificação dos saberes e a formação da subjetividade. O texto nos explicita que ao longo da história, sujeitos foram "construidos" e disciplinados para que atendessem a uma certa ordem, a interesses e formas de subordinação. Se antes, às portas da Revolução Industrial tínhamos sujeitos "dóceis", "não questionadores", "passivos", mas que tinham certa habilidade para lidar com a rotina, com processos e instrumentos, o que temos agora, em nossa "Modernidade tardia" (Stuart Hall)? Quem são os sujeitos que estão sendo construídos? Quem somos nós? Essa modernidade que nos encaminha ao ter, ao possuir...Sabiamente Bauman em "Amor Líquido" faz um paralelo estarrecedor entre as relações que nós, sujeitos, contruímos e as mercadorias:


Consideradas defeituosas ou não "plenamente satisfatórias", as mercadorias podem ser trocadas por outras, as quais se espera que agradem mais, mesmo que não haja um serviço de atendimento ao cliente e que a transação não inclua a garantia de devolução do dinheiro. Afinal, automóveis, computadores ou telefones celulares perfeitamente usáveis, em bom estado e em condições de funcionamento satisfatórias são considerados, sem remorso, como um monte de lixo no instante em que "novas e aperfeiçoadas versões" aparecem nas lojas e se tornam o assunto do momento. Alguma razão para que as parcerias sejam consideradas exceção à regra (pág. 28).


Será que procuramos formas, características, definições e ações dos sujeitos que convivemos todos os dias esquecendo que nós mesmos não conseguimos nos definir? Afinal somos sujeitos da globalização, vivemos e produzimos isso. E mais uma vez trago Bauman (Vidas Desperdiçadas) para refletirmos:


A expansão global da forma de vida moderna liberou e pôs em movimento quantidades enormes e crescentes de seres humanos destituídos de formas e meios de sobrevivência...


Será que compensa buscarmos formas para aquilo que é aformo?

Cultura ou Culturas?



"Operários" (1933), de Tarsila do Amaral

Devemos falar de uma só cultura ou de muitas culturas?

Esta imagem nos faz pensar o que enquanto educadores estamos fazendo? Será que realmente refletimos sobre nossa prática?

Será que sabemos que mesmo dentro de um país, há várias culturas que se sobrepõem, coexistindo lado a lado? Na verdade, basta olhar ao nosso redor para sabermos que há muitas culturas dentro de cada país. No caso do Brasil, temos contribuições culturais da colonização pelos portugueses, dos povos indígenas que habitavam estas terras, dos africanos que foram trazidos como escravos, dos imigrantes italianos, alemães, japoneses, coreanos.

O que mantém a unidade, entretanto, entre essas várias culturas é a ocupação de um mesmo território, o uso de uma mesma língua, será? Quando pensamos na diversidade entre as pessoas, as condições sociais e econômicas do nosso País como podemos pensar em Unidade?