7 de jul. de 2009

O Sujeito como algo provisório
Iniciar este balanço de conhecimentos torna-se algo bastante difícil.
Me faz pensar se é um balanço de conhecimentos ou mudanças e até mesmo pensar sobre o que até então não era pensado por mim.
Penso que este momento de pensar sobre as discussões provocadas nas aulas do grupo OTREDAD apontam para um pensar de novo, ou um pensar novo e porque não um novo pensar.
Descentrar, no sentido proposto por Piaget, e ser capaz de ver outros pontos de vistas e pensar, como propõe Fina Birulés, sem “barandilla”, o que nos é possível quando passamos a enxergar o conhecimento como algo provisório, assim como nós sujeitos.
Ser sujeitos provisórios significa então que aquilo que nos está posto não é algo rígido, embora a sociedade, e principalmente a educação com seus mecanismos excludentes, tentem nos engessar em identidades fixas.
Precisamos sempre considerar que existimos de “...formas tão efêmeras quanto perseverantes e viver cotidianamente nesse eterno vaivém entre o medo e a morte e o amor à vida, entre a necessidade de que o Outro seja nós e o desejo de ser Outro do outro.” (Placer,sd); é algo que buscamos como possível, mas que cada vez se revela longe de nós.
O novo então está naquilo que é definido por Birulés(1996) como conviver com uma contingência e ambiguidade que nos são irredutíveis e que não podem ser ignoradas ou apenas aceitas de formas puramente submissas.
Temos então que encarar o conhecimento como algo que nos apresenta provisoriamente, o que, por si só, possibilita sujeitos provisórios, encarnados como diria Birulés(op.cit), sendo estes capazes de repensar a distinção entre verdade (no que se refere ao conhecimento científico) e opinião (o que é do sujeito) e as possíveis relações entre ambas.
Ora, tais idéias iniciais nos apontam para repensar os discursos pósmodernos e as suas insuficiências quando tentam justificar aquilo que nos constitui.
Quando nós sujeitos poderemos ser nós mesmos? Quando os diferentes mecanismos sociais “controladores do eu” nos possibilitarão exercitar nossa verdadeira identidade como algo que cotidianamente assume características que nós mesmos desconhecemos?
Parece-nos pois que tais mecanismos sociais cristalizam os sujeitos em formas fixadas o que é contrário a emergência que se faz de repensar o outro, e nós mesmos, desprendidos de particularidades, pois uma vez consideradas como aquilo que nos difere, tais particularidades passam a trabalhar com modelos, para que possamos dar conta do que nos é individual.
Sendo assim, os discursos universalistas já não nos serve mais. Tornam-se vazios e não nos igualam enquanto sujeitos, embora sua lógica interna de discurso assim o tente.
Cabe a nós então pensar sobre como falar de identidade se não a temos palpável. Como garantir que não me perca no outro, sendo eu?
Nossas identidades, provisórias por natureza, devem permitir uma reflexão apontada por Birulés(1996) como algo acerca de nossas ações e suas fragilidades como também sobre seus sentidos, as palavras que nos acompanham em nosso agir, bem como a relação entre o tempo vivido e de viver.
As nossas identidades apontam então para um tempo onde elas, fundamentalmente tem a ver com a nossas possibilidades de ordenar nossa experiência e nosso fazer e padecer.
Encontrar o outro ou nós mesmos torna-se cada vez mais distante, já que para isso é necessário que tenhamos que nos “...descarrilar destes tempos do possível e do previsível, desses tempos dominados pelos projetos e pelos cálculos, para deixar-se compassar e embalar em um tempo de ida e volta, um tempo elástico que recusa ser medido e contabilizado”(Placer, sd) e onde, cada vez mais os discursos pósmodernos, ao invés de igualar os sujeitos abrem profundas diferenças entre os mesmos, sem imaginar que a “... a ordem que unifica e compara, e que, portanto, todo intento de deter o real deixa sempre um remanescente que o excede.” (Birulés).
BIBLIOGRAFIA;
BIRULÉS, Fina. Del Sujeto a La Subjetividad - duro deseo de durar, in: CRUZ, Manuel(org). Tiempo de Subjetividad, Barcelona, 1996.
PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia, trad. Maria Alice M. D'Amorim, Forense, R.J., 1º edição,1967.
PLACER, F.G. O outro hoje: uma ausência permanente presente, sd.
VARELA, Júlia. O Estatuto do saber pedagógico, in: SILVA, T. T. O sujeito da Educação: estudos foucaultianos, 6º edição, Petrópolis, R.J., Vozes, 2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário